Como pensar em investimentos financeiros

Tive a oportunidade de conversar com diversos amigos sobre investimentos financeiros nos últimos dias. Volta e meia alguém me pergunta alguma coisa sobre onde colocar o dinheiro, porque tem uma boa quantia parada ou na poupança, e sente que a poupança rende pouco ou nada, em vários níveis de indignação ou indagação.

Por causa da faculdade que estudo e o trabalho que tive no banco e também por tido bastante interesse nessa coisa de mercado financeiro cedo na vida, acabei aprendendo algumas coisas sobre vários tipos de investimentos, lendo sobre Bolsa de Valores, títulos de renda fixa, Tesouro Direto, etc., e me sinto confortável pra falar com os amigos sobre esse mercado, até arriscando um palpite sobre as nossas poupanças.

Primeiro de tudo, fico um tanto empolgado com a quantidade de amigos que têm dinheiro guardado a ponto de se preocupar em investir em alguma coisa, e depois por se interessar pelo mercado financeiro. Acredito ser importante participar desse meio e tomá-lo de arrasto, caso contrário estaremos eternamente reféns dos bancos, seus produtos e sua consultoria parcial e nem um pouco benéfica.

Entrando no assunto mesmo, vou focar na minha resposta, pessoal e nada profissional, sobre onde investir, já que “a poupança rende tão pouco”.

Muitos amigos estão entrando em contato com os títulos de renda fixa (do Tesouro Direto, especialmente), principalmente através de novas consultorias, como a Empiricus, e ficam atraídos pelos resultados divulgados, de rendimentos de até duzentos por cento, dois mil porcento, sei lá quantos bilhão porcento, e imaginam estar perdendo dinheiro ao deixá-lo nos 0,3715% ao mês da poupança.

Mas é lógico, e isso tem que ficar bem claro pra todo mundo, que nem tudo que reluz é ouro.

Não que os caras não consigam montar carteiras excelentes, com rendimentos ótimos. Os rendimentos que eles anunciam não são mentirosos. Mas também não são totalmente verdadeiros: são divulgados os números brutos, sem considerar diversos tipos de descontos que ocorrem nas aplicações.

Ao pensar em investir no mercado financeiro, é muito importante se conhecer: és muito ansioso? Qual seu nível da chamada “aversão ao risco”? Irias desmaiar caso percebesse que o dinheiro sofreu uma desvalorização de um dia pro outro?

Alguns tipos de investimentos são bem seguros, contam com proteção do Fundo Garantidor de Crédito (cobre até 250 mil de perdas em caso de falência da instituição financeira); outros são menos seguros, podem sofrer desvalorização de um dia pra outro (isso no caso de investimentos em renda variável, por exemplo, ações).

Além disso, é importante definir qual a importância do dinheiro de investimento pro seu dia-a-dia, e escolher um tipo de aplicação baseado em alguns critérios que são comuns a todos: data de vencimento (curto, médio, longo prazo), tipo de rendimento (pré, pós ou misto), liquidez (o quão rápido se pode resgatar o dinheiro), tributação (incidência de IR e/ou IOF), segurança (possui proteção do Fundo Garantidor de Crédito ou não).

Normalmente os sites de investimentos te dizem para tirar o dinheiro da poupança e colocar no Tesouro Direto, que seria mais vantajoso e tão seguro quanto. Isso é parcialmente verdade. O Tesouro Direto tem maior rendimento sim (pode-se comprar títulos de taxa pós, pré e/ou misto, indexados aos índices de inflação e SELIC), e possuem liquidez quase máxima (no caso de resgate, o dinheiro é creditado à conta no próximo dia útil). Essa liquidez, no entanto, ainda é menor que da poupança, que não tem tempo de espera, estando à mercê apenas do horário de expediente bancário e/ou transferências por canais digitais.

Além disso, duas coisas não são ditas nessas propagandas do Tesouro Direto: há incidência de Imposto de Renda sobre o rendimento (entre 25% e 17,5%, dependendo do tempo que o dinheiro esteve aplicado) e o rendimento, caso o título seja retirado em data anterior à data do vencimento, não vai ser aquele contratado. Ou seja, caso tenha alguma dificuldade ou emergência financeira, provavelmente terás um rendimento de taxa diferente do esperado, e cobrança de IR maior que o esperado. Além disso, existe a taxa de custódia da B3, que apesar de pequena deve ser considerada também na contratação do investimento.

Nada disso acontece na poupança, porque ela é o investimento mais básico do mercado financeiro brasileiro. A liquidez é máxima, o rendimento é baixo, e não incide tributação, tarifas ou taxas. Isso é conhecido de largada.

Basicamente os meus dois centavos sobre o assunto são os seguintes: existem tarifas diferentes a serem pagas no mercado financeiro, além de os diferentes tipos de investimentos terem características variadas. É necessário saber quanto se vai investir, qual a importância do dinheiro pra sua vida cotidiana (terás que utilizá-lo caso tenha alguma emergência, ou será um dinheiro puramente especulativo, sem necessidade de liquidez?), qual tipo de investimento te agradas, quanto vai render de forma bruta, qual será o total dos descontos, e qual vai ser o valor líquido retirado. Esse valor líquido certamente tem que ser maior que um investimento na poupança, pra valer a pena.

Além disso, se vais contratar algum serviço de consultoria como a Empiricus, certamente deves considerar o valor da assinatura dos serviços deles junto no rendimento dos investimentos.

Tenho dois conselhos para os amigos que querem começar a investir: primeiro, aprender a usar o Excel para fazer cálculos desse tipo. É muito útil e certamente vai te ajudar a saber se está pagando mais por assinaturas, comissões, corretagem, imposto, custódia, etc. do que recebendo juros. Segundo, deixar um valor aplicado em poupança, por menor que seja o rendimento, para ter liquidez em caso de emergências (ser demitido, ter um problema de saúde, problema familiar, etc.). Depois de separado o “dinheiro de emergência”, aí sim vale a pena fazer aportes para aplicações financeiras mais ousadas.

De qualquer forma, é ótimo o interesse no mercado financeiro, especialmente por tantos jovens. É possível que esteja surgindo uma nova geração, com nível de poupança mais alto que o anterior, e isso certamente ajuda no desenvolvimento de qualquer economia. A base do nosso sistema é a poupança, e os bancos e financeiras são tão gigantes porque infelizmente o mercado de crédito é muito solicitado, cobra caro e não tem concorrência.


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