Os Três Últimos Dias

Aviso importante: o seguinte conto aborda temas que podem ser considerados perturbadores e contêm cenas de violência que podem ser gatilhos para algumas pessoas. Se você é sensível a esses temas, recomendo cautela!


Após meses procurando um emprego para suprir sua necessidade de trabalho, Gael teve sucesso em sua primeira entrevista séria. Havia feito entrevistas antes, claro, mas eram ou para estágios durante a universidade, ou para empregos que não queria de verdade. Neste momento, porém, ele estava cheio de felicidade, e enquanto arrumava sua mochila com notebook, agenda, marmita e garrafa de água, não conseguia tirar o grande sorriso que estava tampado em sua boca.

Ao terminar de se arrumar, Gael se dirigiu até a porta, mas não antes de falar com seus pais, seu Miguel e dona Antônia, como eram conhecidos na vizinhança, e que estavam no mesmo nível, senão mais, de felicidade. Seu filho de apenas 21 anos já estava empregado em uma agência de vendas renomada, isso por conta da boa educação e de suas ótimas experiências aproveitadas, não havia nada mais gratificante. O garoto deu um beijo de despedida na cabeça de ambos, acenando para eles enquanto saia pela porta do pequeno mas modesto apartamento.

Se dirigindo a parada de ônibus, o jovem não conseguia parar de pensar nas possibilidades para o futuro. Já imaginava na quantidade de jogos que poderia comprar com o primeiro pagamento, ou talvez uma nova peça para o seu computador. Estava ansioso para pedir alguma comida diferente no aplicativo de entregas, ou mesmo ir em algum restaurante legal e levar seus pais juntos. Foi quando lembrou de sua namorada, e mandou uma mensagem para ela, avisando que já estava indo para o novo trabalho. A conversa entre os dois era rápida, e quando Gael menos percebeu o ônibus já havia chegado na parada.

A troca de mensagens no telefone continuou por mais alguns bons minutos. O trajeto para a agência era demorado, mas o trânsito estava relativamente tranquilo naquele dia. Sem acidentes, sem uma multidão de carros, ter saído cedo realmente ajudou tanto nesse quesito quanto no psicológico do jovem que estava ansioso, mas também contente de tudo estar dando certo no dia. Os raios de sol brilhantes passando pela janela do ônibus parcialmente coberta por uma película de insulfilm energizavam todo o corpo de Gael, que ainda se espreguiçava para acordar o corpo. O sol parecia mais forte naquela manhã, mais vivo do que nunca, e isso trazia uma alegria imensa.

Gael apertou o botão de parada e desceu algumas estações antes, para dar uma caminhada e estar pronto para o dia. Seus olhos fitavam o belíssimo céu azul claro com poucas nuvens, pensando nas possibilidades que poderiam surgir de agora em diante, como novas amizades, pedidos de trabalho, crescimento na empresa, possibilidade de formar uma família. O céu era o limite, e quando estava perto do trabalho, ele abaixou a cabeça por um momento e rezou por isso, por esse sucesso, que tudo continuasse sendo abençoado para ele.

TRÊS DIAS

Ouviu em sua mente milhares, talvez milhões de vozes, em línguas e dialetos diferentes, mas que transmitiam uma mensagem mais clara do que o céu que observava. Uma dor aguda como nunca havia sentido antes tomou conta de sua mente, como se as vozes estivessem falando diretamente em sua cabeça. Gael colapsou no chão, como se todo o seu corpo tivesse esgotado de energia, e toda aquela felicidade que tinha havia sumido. Ele estava vazio. Sem nada. Tentou levantar seus braços, se apoiando no chão pelas mãos, mas seu corpo parecia pesar toneladas. Conseguiu rolar suas pernas e tronco usando da gravidade, para que assim seu rosto ficasse voltado para cima, mas se arrependeu profundamente de sua decisão.

O sol, que a poucos segundos estava estampando o céu com seu brilho revigorante, estava se fechando, como se fosse um grande olho. O céu azul se tornava vermelho de forma gradual, como se sangue estivesse sendo derramado por toda a atmosfera do planeta. Após se fechar no lugar onde estava o sol, um objeto ou presença em forma de círculo fazia surgir uma espécie de revestimento em volta de si, como se carne estivesse surgindo ao redor de ossos. O material parecia um tecído vivo em constante movimento, e nessas “tiras de tecido” surgiam olhos que de longe pareciam pequenos, mas em tamanho real deveriam ter a largura e comprimento da própria Terra. Em poucos segundos, aquele círculo havia se tornado uma coisa inominável, de adjetivos horrendos e absurdos. Seria preciso inventar novas palavras, talvez uma nova linguagem para descrever em totalidade a abominação que estava presente nos céus.

Gael tentou olhar para os lados, desviando a atenção daquela coisa, mas estava hipnotizado pela atrocidade gigantesca. Era como se cada um dos olhos estivesse fitando a sua alma, ao mesmo tempo em que eles pareciam falar dialetos desconhecidos que pareciam mais grunhidos de diferentes animais, mas que juntos somavam a algo semelhante a uma linguagem humana. Depois de mais alguns segundos que pareciam uma eternidade, outra frase ecoou na mente dele.

APENAS TRÊS DIAS

E assim, os últimos três dias da humanidade começaram.


Um
Aos poucos, a força de Gael voltou ao seu corpo, e conseguiu se levantar devagar e tomando cuidado para não cair. Ele passou seus dedos na testa e notou um pouco de sangue, mas não sentia dor. Os olhos continuavam no céu, mas agora pareciam estar olhando para diferentes coisas ao mesmo tempo, talvez por isso sua energia não parecia estar mais sendo sugada. O garoto ficou vários minutos parado, simplesmente olhando em volta, não conseguindo distinguir o mundo real de seus pensamentos de medo e horror. Olhando para os lados, notou coisas que antes não havia percebido.

Todos que estavam nas ruas e nos prédios haviam passado pela mesma experiência, estavam caidos em seus respectivos cantos. Alguns se levantavam devagar, outros caíram em posições piores e pareciam estar desacordados, se não coisa pior. Os carros estavam batidos, alguns passaram por cima de pedestres que agonizavam, não somente pelo atropelamento, mas também pela visão nos céus.

Gael começou a andar devagar, mas não sabia para onde ir. Seu ônibus já estava bem longe, isso se nada ruim tivesse acontecido com o motorista e os passageiros que estavam nele. O garoto estava desorientado demais para voltar para casa a pé, tanto pela distância quanto pela tontura causada pelo impacto após a queda. Como já estava perto do trabalho, decidiu ir direto para a agência, cambaleando ainda pela dor de cabeça que aos poucos se agravaram. Durante o percurso, viu algumas pessoas chorando e gritando, algumas com machucados sérios. Casais, mães, crianças, idosos, o cenário era pertubador e muitas vezes precisava revirar os olhos e tapar os ouvidos. O telefone ainda estava funcionando, mas não queria parar no meio da calçada a céu aberto, com os “olhos”, ou o que fosse, observando.

Quando seu corpo recuperou um pouco da disposição, correu na velocidade possível até o shopping center onde ficava a sua agência. Ao entrar no prédio, o sentimento de estar sendo observado não diminuiu, por mais que não pudesse ver aquele ser colossal por debaixo do teto e de trás das paredes.. As pessoas lá dentro estavam atonitas da mesma maneira, e em determinados momentos Gael tinha que desviar o olhar para não ver corpos de idosos e até de crianças pequenas que não haviam aguentado as dores mentais ou a queda repentina.

Os elevadores não estavam funcionando, então Gael subiu as escadas lentamente, a respiração ofegante e o coração disparado. Quando finalmente chegou ao andar de sua agência, encontrou as portas escancaradas e os monitores todos desligados, como se ninguem tivesse começado a trabalhar ainda. Um frio terrível percorreu sua espinha quando ele viu que seus colegas de trabalho estavam espalhados pelo chão, mas não de maneira normal.

A cena que se desenrolava diante de seus olhos era um pesadelo vivo. Pessoas estavam se atacando mutuamente, olhos revirados e rostos contorcidos em uma expressão de insanidade e horror. Uma mulher, chamada de Carla, que ele conhecia apenas de vista durante uma de suas entrevistas, estava agachada em um canto, rasgando os próprios braços com as unhas até eles estarem em carne viva. Outro homem, que sempre estava calmo e tranquilo, agora estava em pé sobre uma mesa, gritando incoerências enquanto jogava equipamentos no chão.

Gael, aterrorizado, tentou não fazer barulho, mas cada passo que dava parecia ecoar na sala como um trovão. Ele se escondeu atrás de uma divisória, observando a cena com um medo crescente de que também fosse afetado por essa loucura súbita.

Os sons ao seu redor eram de uma cacofonia de gritos e murmúrios, misturados com um estranho zumbido que parecia emanar das paredes. Era como se algo invisível estivesse se alimentando do pânico e do caos, tornando a atmosfera sufocante e opressiva. Gael se obrigou a respirar fundo, tentando afastar a sensação de que sua sanidade estava pendurada por um fio.

Procurando uma rota de fuga, ele percebeu que os corredores estavam bloqueados por mesas viradas e corpos caídos. Não havia como sair sem passar pelos que estavam se matando. Ele se lembrou de uma saída de emergência nos fundos do escritório, uma porta raramente usada, mas que poderia ser sua única chance de escapar daquela loucura.

Mantendo-se baixo e em silêncio, Gael começou a rastejar por entre os móveis caídos. Em um momento de desespero, seus olhos se encontraram com os de um de seus colegas, que estava deitado no chão, olhos vidrados e boca murmurando palavras sem sentido. O homem parecia estar em um transe profundo, a mente consumida por visões além da compreensão.

Finalmente, Gael chegou à porta dos fundos. Ela estava trancada, mas uma chave de emergência pendurada na parede ao lado oferecia uma solução. Com as mãos trêmulas, ele destrancou a porta e empurrou-a com força, saindo para o beco escuro atrás do prédio.

Lá fora, a cidade parecia, à primeira vista, quase normal. Os edifícios permaneciam de pé, e as ruas ainda estavam intactas, mas a desolação e o caos reinavam. O silêncio era opressivo, quebrado apenas por gritos distantes e o som ocasional de vidro se quebrando. Carros estavam abandonados, alguns com portas abertas e alarmes ainda soando, enquanto outros mostravam sinais de colisões violentas em meio ao pânico.

Gael caminhou pelas ruas, sentindo uma desconexão surreal entre a cidade ainda fisicamente presente e o caos humano que a habitava. O eco de seus próprios passos o acompanhava, e ele sentia como se estivesse sendo observado por milhares de olhos invisíveis. As vozes que antes ecoavam em sua mente estavam agora mais distantes, mas ainda presentes, um lembrete constante de que a realidade que conhecia havia sido rasgada.

O cenário era grotesco: pessoas vagando sem rumo, algumas rindo descontroladamente, outras chorando em desespero. Gael desviava o olhar dos confrontos ocasionais que testemunhava, incapaz de compreender completamente como tudo havia se desintegrado tão rapidamente.

Gael continuou sua caminhada, determinado a sobreviver e descobrir a verdade por trás daquele pesadelo. Mas sabia que a estrada à sua frente seria repleta de horrores que testariam não apenas sua coragem, mas também a essência de sua humanidade. O mundo que ele conhecia estava perdido, e o que restava era um lugar de sombras e mistérios insondáveis, onde cada passo poderia levá-lo ainda mais fundo no abismo.

Enquanto avançava, o peso da situação começou a afundar completamente em sua mente. A civilização estava se desintegrando não por força externa, mas pelo colapso interno do espírito humano. O fim havia sido decretado pela criatura nos céus, mas quem traria a morte e destruição seria a própria humanidade.


Dois
O segundo dia nasceu sob um manto de caos e desespero. Gael acordou em um abrigo improvisado no porão de um prédio comercial abandonado. O medo e o terror da noite anterior ainda pesavam em sua mente, como um véu de trevas que não podia ser afastado. O som distante de sirenes e gritos ecoavam pela cidade, uma sinfonia sinistra que nunca cessava.

Gael saiu do porão, piscando contra a luz do sol que filtrava através da fumaça que se levantava dos edifícios em chamas. Ele estava determinado a voltar para casa e encontrar seus pais, mas sabia que o caminho seria perigoso. As ruas que uma vez conheceu estavam irreconhecíveis, transformadas em um campo de batalha pela própria humanidade.

Enquanto caminhava, ele testemunhou cenas de barbárie e desespero que pareciam saídas de um pesadelo. Pessoas saqueavam lojas, arrancando tudo o que podiam em uma tentativa frenética de sobreviver. As vitrines brilhavam como estilhaços sob a luz vermelha no céu, refletindo o caos que se desenrolava nas ruas.

Em uma esquina, Gael viu um grupo de pessoas brigando por um punhado de comida. Gritos de raiva e dor enchiam o ar enquanto as pessoas se atacavam com uma ferocidade que ele nunca poderia ter imaginado. Era como se a civilização houvesse se despido de sua fachada, revelando a brutalidade primitiva que estava sempre presente, apenas esperando para emergir.

Ele virou uma esquina e viu uma estátua religiosa sendo derrubada por um grupo que a atacava com pedras e martelos, zombando e proferindo blasfêmias. A devoção e o respeito haviam sido substituídos por desprezo e destruição.

Mais adiante, ele viu um homem deitado no chão, em meio a uma poça de sangue. Um grupo passava por ele, impassível, como se a vida humana não tivesse mais valor. Gael sentiu um nó na garganta, uma combinação de tristeza e raiva que ameaçava sufocá-lo.

Ele entrou em uma loja saqueada e encontrou um homem furioso, rasgando notas de dinheiro, enquanto ria histericamente. A busca por riqueza e bens materiais havia se tornado inútil, transformando-se em loucura e desprezo pelo que antes era valorizado.

Em outra rua, Gael presenciou uma briga violenta entre irmãos, que se atacavam com armas improvisadas. O laço familiar estava dilacerado, corroído pela loucura que consumia a cidade.

A cena seguinte era ainda mais terrível: uma criança, deixada sozinha em uma calçada, chorava desesperadamente enquanto adultos passavam sem olhar, movidos apenas pelo instinto de autopreservação. O dever de cuidar e proteger os mais vulneráveis havia desaparecido na onda de desespero.

Ele virou em uma rua lateral, tentando evitar o pior do caos, mas a cena ali era ainda mais terrível. Pessoas haviam se transformado em monstros, e o desejo pelos corpos um dos outros havia ultrapassado todas as barreiras da moralidade. Em uma porta, um grupo havia iniciado uma espécie de culto insano, cantando louvores às abominações que agora habitavam os céus, acreditando que assim poderiam ser poupados. As pessoas se reuniam em torno de um homem que prometia salvação em troca de servidão e sacrifícios, explorando o desespero das pessoas para seu próprio benefício. Um casal se separava ali, cada um tentando entregar o outro para o homem e sacrifício, ambos se acusando de traição e infidelidade. O amor e a confiança foram despedaçados, transformados em ódio e desconfiança.

Gael tentou manter a cabeça baixa e se mover sem ser notado, mas a tensão estava em todos os lugares. A sensação de estar sendo observado era inescapável, como se os olhos no céu ainda estivessem fixos nele, saboreando seu medo.

Ao chegar a uma área onde a destruição era menor, ele percebeu que as pessoas estavam começando a se agrupar, formando facções e gangues em um esforço para sobreviver. As alianças eram instáveis e muitas vezes terminavam em violência brutal. Gael sabia que tinha que evitar esses grupos; ele não podia confiar em ninguém, pois a sanidade parecia ter se tornado uma mercadoria rara.

O som de tiros e explosões ecoava à distância, uma lembrança constante de que o mundo estava ruindo. A esperança de encontrar seus pais o impulsionava para frente, mas cada esquina virada trazia novos horrores e eliminavam um pouco mais de sua pureza.

Gael encontrou abrigo em um prédio abandonado, sentindo-se exausto e à beira do colapso. Ele olhou para fora da janela quebrada, vendo a cidade que antes era seu lar agora transformada em um cenário de pesadelo. O céu ainda estava manchado de vermelho, como se refletisse o sangue derramado nas ruas abaixo.

Em sua mente, ele ouviu novamente os sussurros das vozes, mais distantes, mas ainda presentes, como uma sombra que nunca poderia ser apagada. Ele sabia que o caminho para casa seria longo e perigoso, e que o mundo que conhecia havia desaparecido para sempre.

A batalha estava perdida, e o terceiro dia estava chegando.


Três
O terceiro dia amanheceu com uma luz estranha, lançando sombras distorcidas sobre a cidade devastada. Gael, movido por uma determinação feroz, retomou sua jornada para casa. Os sons de destruição ainda ecoavam ao longe, um lembrete incessante do caos que agora reinava.

Ele se movia com cautela, consciente de cada ruído, cada movimento ao seu redor. Ao se aproximar de seu bairro, o coração de Gael batia descompassado, cheio de uma mistura de esperança e medo. Ele imaginava seus pais, o pequeno apartamento que sempre fora seu refúgio, agora uma promessa incerta no horizonte.

Finalmente, depois de horas de caminhada e de evitar o perigo em cada esquina, Gael avistou seu prédio. A fachada estava manchada de fuligem, as janelas quebradas em muitos andares, mas o edifício ainda estava de pé. Ele correu pelas escadas, ignorando o elevador que não funcionava mais, sua mente focada em chegar ao lar.

Quando alcançou o andar de seu apartamento, hesitou por um momento antes de girar a maçaneta da porta. Entrou com cautela, o coração na garganta. O apartamento estava escuro e silencioso, mas intacto. Foi então que ele os viu: seus pais, ajoelhados no centro da sala de estar, chorando e rezando.

"Gael!", gritou sua mãe, levantando-se para abraçá-lo. As lágrimas rolavam por seus rostos enquanto se abraçavam, um momento de alívio em meio ao caos. Seu pai o segurou firmemente, e juntos, eles ficaram ali, abraçados, chorando pela destruição ao seu redor e pela pequena vitória de estarem juntos novamente.

Lá fora, a cidade parecia uma terra de ninguém, um deserto de destroços e fogo. Mas o céu... o céu estava mudando. Os olhos gigantes que pairavam sobre o mundo começaram a brilhar intensamente, lançando feixes de luz ofuscante sobre a Terra.

No horizonte, formas emergiram das nuvens rubras. Criaturas aladas, de uma beleza terrível e majestosa, desciam dos céus. Suas asas eram como chamas, seus corpos resplandecentes com uma luz dourada e ameaçadora. Eles desciam sobre a cidade… na verdade, sobre todas as cidades, em todo o mundo. As criaturas aterrissavam nas ruas, suas vozes ecoando como trovões. Onde suas asas tocavam, a terra se partia, engolindo tudo em seu caminho. A humanidade estava sendo aniquilada, e não havia como escapar.

Gael sentiu uma mistura de pavor e resignação, consciente de que o fim havia chegado. Ele olhava para os seus pais que rezavam sem parar, as palavras de suas orações sendo sufocadas pelo som crescente da destruição. Gael se juntou a eles, ajoelhando-se ao lado de seus pais, sua mente uma mistura de medo e esperança de que talvez houvesse algo além deste mundo que os esperava.

A Terra estava sendo consumida por uma tempestade de destruição, os pilares da civilização desmoronando um a um. Em todos os lugares, a humanidade enfrentava o juízo final, cada alma confrontando seu próprio reflexo naqueles olhos colossais que dominavam o céu.

Em meio ao caos, algumas pessoas ainda lutavam, resistindo à queda inevitável. Mas para muitos, a batalha havia terminado, suas vozes silenciadas pela magnitude do que enfrentavam. O tempo parecia se arrastar, cada momento uma eternidade enquanto o mundo descia ao seu destino final. O apocalipse havia chegado, um julgamento que a humanidade nunca poderia ter previsto, mas que já havia sido avisado faziam muitos anos.

Quando o último vestígio de luz desapareceu do céu, uma escuridão profunda cobriu a Terra. A cidade estava em silêncio, o caos cessara. No apartamento de Gael, apenas a respiração suave e os sussurros de oração quebravam o silêncio.

Aqueles com boas almas viveram eternamente, aqueles com almas impuras queimaram.

E então, com um suspiro final, o mundo chegou ao fim.


You'll only receive email when they publish something new.

More from Caio Cruz
All posts