recomeço

não crio
se crio, desconfio
sinto o peito arder
a palavra se conter
escrevo o que vem
rimo, se convém
sinto o desânimo fluir
me despejo sobre a tela
quero uma caneta, não aguento essa ideia
quero desconectar, a internet é minha cela
moderna, perversa
direta, incerta

música ou poema
lamúria ou doença
não sei se quero solidão
se quero abraço, multidão
danço entre palavras
essa escrita é minha arma
quero amar a mim mesmo
como amam meus cortejos
quero verificar amores
não limitar os meus valores
postar e me esconder
que ironia, que poder

meus dedos cantam enquanto escrevem
meu coração é o batuque, minha mente é uma lebre
rápida e veloz
ousada e algoz
um ritmo frenético
um vômito subindo
é o corpo se iludindo
ou a mente se despindo?
sou eu gritando o que eu sinto
ou pintando mentiras em ladrilhos?

se tiro a vida, dói nos outros
se fico mal, sentem junto
a dor conforta, é louca lógica
a saudade esgota, o peito coça

e em poucas mensagens o sorriso vem
pensamentos sombrios vão e vem
um abraço distante traz acalento
uma mão no ombro é o sentimento
ainda escrevo um quilômetro de palavras
se imprimo o texto, vai dos pés à alma
imagino a vida como uma lenta valsa
com subidinhas calmas e pisadas falsas
faço do texto a terapia
abraço um dia de monotonia
o relógio andando ou o ventilador parado
o gabinete ronronando, o mundo ao lado
o sorriso vai e o quente fica
obrigado pelo convite, pela mão amiga
quero postar isso sem me preocupar com a métrica
versos quebrados, rimas pretéritas
junções sem sentido, mas a vida é assim
um eterno cola cola, sem determinado fim.


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