Note 1

uma história sobre um velho esquecido no obsoleto. num albergue. e por que albergues são ruins?

eu acho que prefiro essa.

o primeiro dia é sempre aterrorizante. a caminho do albergue, eu me lembrava dessa história contada por séculos. a primeira vez, o primeiro dia, o primeiro alguma-coisa. tentei acessar a primeira vez que fui ao colégio, mas não consegui. lembrei, sim, dessa vez, sim, da minha primeira transa. lembro que no colégio, o único de minha vida inteira, todos sabiam. eu passava pelos corredores e todo mundo falava: vai lá, dan, aproveita, arrasa. os incentivos eram ótimos e me fazia esquecer do medo de ir em um puteiro pela primeira vez pra tirar minha virgindade. o pior foi que a história só aconteceu na minha segunda vez num puteiro. na primeira, ele tava fechado. lembro de uma mulher maltratada olhando pra mim de cima -- lembro dela muito alta -- e falando "hoje tá fechado, volte amanhã". como chegar pela primeira vez no colégio depois de todo mundo achar que minha primeira vez ficou num puteiro? mentindo e dizendo que foi ótimo. obriguei o rodrigo -- que já tinha tido sua primeira vez e que estava me levando pra eu tirar a minha -- a falar pra todo mundo que o dan arrasou, que foi muito bom, que ela amou e que disse que era pra ele, que no caso sou eu, pra voltar lá amanhã. que foi quando eu realmente tive a primeira vez. foi fácil, rápido e péssimo. mas pelo menos foi rápido. a mesma mulher maltradada que abriu a porta pra mim no dia anterior foi quem abriu a porta do quarto no dia seguinte. a funcionária já tava lá dentro com um sutiâ amarelado e uma barriga de chopp meio grande. a flacidez existia e tentei me concentrar apenas nos peitos enormes dela. 40 reais foi o cobrado e pronto. sai de lá descabaçado.

fico rindo por dentro agora, dentro desse carro, com minha filha dirigindo, mas eu estou preocupado, triste, com raiva.

o meu primeiro dia foi assim, silencioso. cheguei na aurora do dia, quando ainda não é noite nem dia.