Ressuscitou
April 20, 2025•477 words
A Paixão de Jesus foi marcada pela agitação pública: a multidão clamou por sua morte, houve trevas, terremotos e o próprio véu do templo se rasgou, por exemplo. Em contraste com isso, sua Ressurreição ocorreu no silêncio, sem testemunhas do momento exato em que deixou o túmulo. Somente algumas mulheres, ao amanhecer, encontraram a pedra removida e o sepulcro vazio, não houve estrondo nem espetáculo — apenas a silenciosa certeza de que a morte fora vencida. Essa discrição, porém, não diminui a grandiosidade do fato, mas mostra um padrão divino: o poder que se manifesta na suavidade.
A dinâmica silenciosa da Ressurreição de Cristo ecoa um episódio do Antigo Testamento, quando Elias aguardava Deus no Monte Carmelo. Vieram ventos fortes, terremoto e fogo, nos quais Deus não estava. Então, depois desta barulheira, veio "o murmúrio de uma brisa suave" (1Reis 19,12), e ali Elias encontrou a presença divina. Da mesma forma, a Ressurreição não precisou de fenômenos espetaculares como acessários para confirmar que foi realidade. O mais importante revelou-se no silêncio do túmulo vazio e no encontro íntimo com o Ressuscitado — um sinal para discernir Deus não no barulho, mas na quietude que fala ao coração.
Essa suavidade reflete os frutos do Espírito descritos por Paulo: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, etc (Gálatas 5,22-23). A Ressurreição, embora tenha sido o ápice da ação de Deus, não foi exibida com violência ou ostentação, mas oferecida como um dom a ser acolhido com fé e humildade. Do mesmo modo, a ação do Espírito não vem com pirotecnia e shows de luzes, mas transforma discretamente, como o fermento na massa. A força divina não se mede pela grandiosidade dos meios, mas pela profundidade da transformação que opera na discrição.
Historicamente, a Paixão de Cristo tem indícios externos: Flávio Josefo menciona sua execução, e a crucificação era uma prática romana documentada. Já a Ressurreição não deixou registros materiais. Seu acontecimento não se prova por evidências empíricas, históricas nem científicas, mas pela fé compartilhada com quem testemunha o Cristo vivo - o que não torna a Ressurreição menos real. A fé não é uma renúncia à razão, mas uma adesão a Jesus, que na Ressurreição se revela na discreta (mas não por isso menos poderosa) vitória sobre a morte.
Deus poderia manifestar-se apenas, ou na maior parte das vezes, com espetáculos grandiosos. No entanto, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento ele escolhe revelar-se também — e sobretudo — na simplicidade: numa brisa, numa criança em Belém, no sim de Maria, no silêncio de José ou num túmulo vazio ao amanhecer. Essa discrição é a marca de um poder que não precisa se impor para transformar. Cabe a nós, então, afinar os ouvidos para o murmúrio divino, atentos ao que não chama atenção, mas ao que carrega em si a força silenciosa da ressurreição.
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