Ausência Presente
March 27, 2025•172 words
Não atendo o entregador
Porque na casa que moro
Jamais verdadeiramente estou
Posso ser meu próprio lar?
Embora as flores do jardim
Não sejam plantadas por mim?
As paredes que me protegem
As janelas que me mostram o além
Todas elas estão dentro e fora
O telhado que me abriga
Foi feito por mãos amigas
O cobertor que me aquece
É feito de sonhos, de amor e de prece
Defino-me pelo interior
Em contato com o afeto
Com a casta
Com a cor
Com o meu cerne trabalhador
Com as horas que me roubam
Com a fome
Com a sede
Com cada marcador
A ventania que entra
A chuva que cai
O sol que abunda
A noite que vai
Todos interferem na residência
Tão atulhada
Em pé pelo destino
Pelos desatinos
Pelo carinho
Ameaçada pelo suspiro
A estrutura sente-se ausente
Já que para ser habitada
Cabe a fuga do alienante
Encontrar aquela(s) ferida(a)
Fugir das horas extras
Olhar para o céu revolto
E aceitar que em alguma fresta
Haverá um sonho morto