J

J_Leyva

Em que anotação ficou perdida a minha face? Alguém acostumada a perder textos, seja por desorganização, seja intencionalmente, rsrs.

Subiu um gato no meu peito

Subiu um gato no meu peito Deitou-se e ronronou Quentinho, aninhou-se Não pediu permissão Não preparei um pote de água Tampouco ração Ele não se importou E me abraçou Ou eu que o abracei? Subiu um gato no meu peito Seu peso me deu estrutura Eu não pedi, eu não queria Mas ronronei também: Era amor ...
Read post

Responsabilidade

Os ladrilhos percorridos Por escolha, por vontade Por contexto, por enredo No labirinto de verdades Até encarar o espantalho dissolvido E ver o universo daqueles olhos Tão outros, tão seus Humanos e perdidos A contar outra história Discordante, lancinante Um dissenso de memória Sem negação: Vestir a armadura Tramar novos contos Trocar o piso E assumir responsabilidade ...
Read post

É noite

De pés descalsos Me vesti de insônia E observei os monstros passarem O do cartão O do prazo O da vergonha O da saudade O do ponto O do texto O da urgência O do exercício Eles passarão... Mas eu não sou passarinho. Agarro o travesseiro E transformo a prece em ninho ...
Read post

Caminhar, caminhar!

Caminhos diversos, a distância se alonga, eu caminharei. ...
Read post

Outros Versos

Deixa que eu nunca diga Os versos banais e sinceros Que a minha boca perdida Insiste em tentar dizer Têm textura de tecido caro Com linhas e agulhas a tecer Misturados a poliéster barato Feitos para me endoidecer! Nao te digo, nem te direi Porque boca linda É aquela de própria lei Te amo, mas devo me amar tanto! E esses versos, que não lançarei, Compõem o sepultamento mais sério que já fiz *Minha homenagem à Florbela Espanca, especialmente ao poema Os Versos que te Fiz ...
Read post

Gaza, haverá outro dia

Gritos entre ruínas Pouco pão, muita poeira amarga A morte mastiga *Diários de Gaza: a memória é uma casa indestrutível, obra contemporânea com relatos atuais de pessoas na Palestina, é um grito de socorro e de resistência. Consegue ser muito mais destruidor do que outros relatos de guerra e de morte que já li - porque essa ainda está em curso... Torço para que haja futuro. 🤍🕊️ ...
Read post

Marina & Ulay

Os cabelos misturados A respiração conectada A mesa que unia olhares Os corpos intransponíveis Era mais do que performance Era casa e veículo Era vida, arte e sede Misturados com suor e sangue A cena chega ao fim Dos extremos da muralha Um abraço final Que era um até logo Estática, espera, tempo Os olhos cansados se encontram As mãos se tocam Era a vida de um escrita no outro Antes da morte Que se avizinha Sorrateira Com amor, Um adeus gentil ...
Read post

Qual o seu norte?

Escolhas de tema De metodologia De carreira De onde ir Do que abrir Do que comer Do que iluminar Do que ocultar Do que manter Do que levar Do que silenciar Do que buscar Do que aceitar Qual o seu norte? ...
Read post

Para a mulher no cavalo

Teu sobrenome sumiu, minha vó Os tropeiros que te trouxeram para o litoral Não fizeram questão de anotar A cuia que carregavas desapareceu O punhal desenhado com vestes charruas Teve destino incerto, em uma dessas mudanças O cavalo se manteve na foto Tua cor acobreada ficou lá Com teu cabelo curto As tuas palavras também não chegaram Teu sobrenome é fragmento Até o nome o padre quis trocar Mas esses cacos, que recolo Te trazem do apagamento. ...
Read post

Esqueci de te deixar

Era hora de parar Deixar-te ali Seguir em frente Olhar novos horizontes Mas eu esqueci de te deixar Te levei comigo Embora tenhas pedido Para eu estacionar Era pesado Ter-te ali e carregar a tua presença Mas eu não estava pronta Para me sentir tão só E, enquanto for preciso, Vou esquecer de te deixar ...
Read post

Um poema feio

Escreva feio Escreva bobo Escreva torto Escreva como quem vai morrer Como quem ri do incerto Como quem olha o ridículo e decide mordê-lo Escreva para o outro Escreva para si Escreva para sentir Escreva, caro leitor Pode ser que no meio dos dejetos Sua alma transborde E nasça uma flor ...
Read post

Mosaico

O espelho partido Trouxe pó Fragmentos que cortam Barulho Confusão Olhei um caco: Achei abismo N'outro canto Refletiu amor O mosaico No fim das contas Até que saiu bonito *Não gostei, achei pobre, mas é o que temos para hoje. ...
Read post

O mundo acabou hoje

O mundo acabou hoje Quando ele acabou ontem Achei que eu tinha ido também Na próxima vez Que ele terminar Já sei que eu não me acabo ...
Read post

Sonhei com um adeus que não veio

Sonhei com um adeus que não veio Falaste da visita ao mar revolto Que eu também havia visto Mas teus olhos e os meus não se encontraram lá Questionei-me quem estaria a ver a tua vista Um beijinho de adeus Um abraço para dizer boa sorte Teu rosto se perdeu no oceano ...
Read post

Sobre edificações

Treliças leves e fortes Que sustentam a construção Vãos que dão espaço E apontam novas vistas. Parapeitos que evitam quedas Tijolos encaixados a muitas mãos Proteção do sol e da chuva, Ainda que abrigo silencioso. Lá, inexiste sufocar Não há grades, há pontes A iluminação zenital é um charme Assim como o canteiro e a fonte. Distâncias e intempéries Tempo, mato, portas novas A estrutura, quando sólida, Ainda lá vai estar. ...
Read post

Luta

A saudade vem Quando o luto já foi Resta apenas luta ...
Read post

Aceitas o mesmo copo?

Nas ranhuras do vidro Surgem entalhes de dor Recortes de fome, de sede De risadas e de esplendor Tentaste quebrar o copo Mas ele retornou Com o mesmo líquido agridoce Narrando igual história Outro gole, outra careta O estômago reclamou Um novo engolir Surpreendeu pela doçura Veneno e cura em tal receptáculo Aceitas, mais uma vez, o mesmo copo? *O eterno retorno tem muitas formas (coisas do bigodudo do Nietzsche). Aceito outro copo da mesma vida, com gosto :) ...
Read post

Haicai

Ondas vão e voltam o tempo esculpe a areia sem pressa ou perdão. ...
Read post

Alienígenas

São dois aliens nascidos E não no mesmo arrebol Em diferentes, mas parecidos galhos Unidos por um único sol Juntos bem como o início E o fim de uma frase Que pode soar bem desconexa Ou fazer todo o sentido: Não passa de loteria? É também um exercício Retirar a maquiagem Do que pretende parecer Ultrapassar os sentimentos similares As doenças derivadas do mundo de origem Perceber, sem véu, os planos incompatíveis Unidos... Aí quem me dera Numa eterna primavera Quebrar o encanto da flor Era ...
Read post

Aromas a transportar

O aroma no transporte Transportou-me O coração disparou: Quem estava ali? Era outro tempo Raios de sol Que ofuscavam E dissimulavam ansiedades O relógio correu Noite fresca se anunciou As luzes artificiais Afastaram as sombras Chequei: não eras tu Também não era mais eu ...
Read post

Para Vera

Vera contempla Aglomerados de galáxias Asteroides mil Tamanhos, surpresas, infinito As luzes, o movimento As cores, o céu O silêncio e o imenso O vácuo esconde o grito Um coração partido É só mais um caco Um pó que ilumina Esse espetáculo bonito ...
Read post

Hoje matei um poema

Hoje matei um poema De propósito, afoguei-o Vi seus olhos brilharem Enquanto se debatia Hoje matei um poema Decidi trocar as palavras Mudar-lhe a cor Tampar a sua essência Hoje matei um poema Que optei por velar Antes do nascimento Com flores permanentes Hoje matei um poema Que teimava denunciar Despir o que não deveria Semelhanças a indicar Hoje matei um poema Cobri com terra e com plantas Aquelas que não podem germinar Sem sentir, a plastificar Hoje matei um poema Não foi rápido As...
Read post

Faça uma lista de suas partículas

Não foi Rutherford: Foi Oswaldo quem me ajudou a mapear Servindo-me uma fotografia do que foi Das ligações, das alterações orbitais Do que compunha a minha matéria Tão passageira, tão banal O núcleo manteve-se em parte Elétrons, de posição incerta, moveram-se Suas probabilidades fazem cócegas Que aceito em perceber, quando possível Para estabilizar Perdi algumas partículas Ao custo de muita dor Preferível conexões De elétrons a partilhar Numa covalência estável Vale, ainda, encontrar ligaçõe...
Read post

Perto demais

Quanta sede senti! Chegou tão perto Que me arrancou pedaços Nacos de carne Órgãos inteiros removidos Até a água vazou, sem parar Os cabelos O apetite O sono Alterados e faltantes Despedidas sem adeus Colo, flores, novas vertentes Partes novas, buracos velhos: Ganhei novos dentes ...
Read post

Os limites da gaiola

Sartre tem sua liberdade Sem destacar, a contento, As condicionantes As limitações As escolhas difíceis A pele, as contas, o trabalho O medo, a classe, o horário A condenação a ser livre Explode em contexto Dentro de um encaixar Mais fácil, parece, Negar parte das escolhas Ainda que restritas às possibilidades Aceitar as rédeas Assumir o norte Escrever o sonho Sentir o tombar Lamber as cicatrizes: É tempo de voar ...
Read post

Às mil vidas comidas

Devoro-te Mas não te decifro Cada mordida Sacia, um pouco, A inesgotável fome de vida Com texto bebo Sugo Revivo O de ontem e o de agora A oculta e a exposta O triunfo e a derrota Guardo-os na caixa Como melhores doces finos Saboreio os amargos Sofro com os pepinos Tento o banal e o divino Escreve tu também Para que eu possa te devorar ...
Read post

Limitações

Quero te dar o mundo Quero falar os temores Quero sentir os cheiros Quero provar os amores Mas eu sou um cobertor curto Quero aprender todos os idiomas Quero experimentar todos os sabores Conhecer os mapas, ver as cordilheiras Explorar o céu e os astros E contemplar a criação Mas eu sou um cobertor curto Quero te dar meu rim E enquanto isso fazer um tratado de filosofia Quero aprender matemática E brincar com a imaginação Reter todas as memórias Mas eu sou cobertor curto Nesse devaneio h...
Read post

EXPLOSÃO

Os desassossegos mudam Mas continuam na varanda Prontos para atordoar Um soco Movimento Movimento Movimento Uma esquiva Mais movimento Outro direto! Foge e bate! Nunca esquece de se proteger! Avança, vai! IMPACTO! Por que parou de pular? Por que decidiu lembrar? Por quê? Direto! Por quê? Jab, direto! Por quê? EX PLO SÃO! Mãos que acariciam Perdidas em ganchos Prontas para EXTRAVASAR Tem suor e silêncio na varanda: É tempo de sossegar. ...
Read post

!Peras no te voy a dar!

Tu me pediste peras Mas eu só possuía olmos E os servi com carinho Reclamaste do esconder da casca E me mostraste teus vincos Para me dar coragem de exibir os meus Desconfiada Deixei-te acompanhar alguns sulcos Os de alegria Os de infância Os de mordidas também Fortaleci-me Numa tempestade, contudo, Mostrei parte de superfície Que parecia muito machucada Não veio guarda-chuva Somente um pedido, torto, por mais peras E uma fúria pelo silêncio anterior A intempérie passou Guardaste os respin...
Read post

Jardinagem

Os sinais de erosão Vêm da falta de raízes E do excesso delas Deixá-las criar E sem perceber Saborear o rasgar Vem a chuva. A terra aquece: Uma semente germinou A alegria do nascer O amor em cultivar O acidente a prosperar Chega nova estação Algumas plantas Perdem-se a intempéries O prazer em partilhar É incapaz de antever A dor pela mudança A flor nascida Talvez num mesmo arrebol Deixou o olor Marcas de espinhos Nada mais. Ver a passagem É o preço sentido Da arte de jardinar *A...
Read post