J

J_Leyva

Em que anotação ficou perdida a minha face? Alguém acostumada a perder textos, seja por desorganização, seja intencionalmente, rsrs.

Cumplicidade

Asfalto e concreto descansam Sem o burburinho dos trabalhadores Tão aglomerados nas pedras Mas já tão distantes Um centro que morre sem gente Repleto de zumbis existenciais De duas espécies, contudo. A escuridão me envolve. O ser da boca cobiçosa e podre chegou perto demais. Na calçada vazia, Aperto o passo Enquanto a voz se afasta A gargalhar Virando a esquina Há livre ponto a embarcar O coração respira Mas são apenas minutos. Até outro zumbi nojento Achar que pode ameaçar No convite pe...
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Siga (ou não) as placas

As labaredas se aproximam O calor a fumaça se misturam Cores intensas e dançantes Que querem, no mínimo, chamuscar O som da sirene acusa Que já passa da hora de fugir Não há ninguém a me guiar? Grita ao vazio Enquanto as chamas riem sem pausa A cabeça vai ao chão Para respirar melhor Com as ideias mais livres Surge a solução: São as placas de saída! Em meio ao caos As setas guiam O avançar é lento Mas constante Agora é só seguir em frente! O excesso de vapores Inebria, confunde e aquece por ...
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Tus e Vocês

Tu não sabes Falar de terceiros Mas teces comentários de segunda Já você prefere Outros verbos Que são seus, mais do que nossos A alegria pura Está na mistura No deslizar das palavras Que mudam o curso da língua E das pessoas Seja contigo Seja consigo Eu consigo misturar E também esquecer ...
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Um poema sobre o clima

Um poema sobre o clima Que busca lugares comuns Preenche elevadores E evita análise de qualquer um Como chove nessa estação! Disse o primeiro, com nublado coração. Pegue o casaco, por favor! Lembrou o segundo; Pois cuidado também é amor. Que calor nessa cidade! Devolveu, com olhos aflitos, Na esperança da verdade. -Te trouxe um guarda-chuva. Falou o outro, em fingido descaso, num carinho de leve, de luva. Agora, esse frio está de matar! Reclamou, aninhando-se: Queria mesmo era se esquentar...
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Desmemórias

Se já se escreveu Sobre amar o perdido Ainda resta confusão? Não há memórias Só fragmentos de histórias Escritas a quatro mãos As coisas não tocadas Certas vezes imaginadas Essas perecerão . . *Baseado no poema Memórias, de Carlos Drummond de Andrade. ...
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Heterocromia

As manchinhas Cada ranhura Os tons de castanho Que se misturam ao verde As lágrimas que mudam a cor Olho nos teus olhos Pra não te esquecer ...
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A esfinge sumiu

O preço do indecifrável Não vem na mordida Mas na falta dela. ...
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Não há resposta

Se a resposta é amor: lamento. Ela vem incompleta Embora não exista solução sem falta novo sem medo crescer sem romper a casca Há pão e tempo: Presente Passado Futuro Não é o dia Tampouco a noite É no alvorecer Ou no crepúsculo Que se vislumbra possibilidade ...
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Severinices

Para a obra do Ian honrar que entregou tanta brasilidade de um jeito torto, vou tentar contar da minha saudade do Dendê daquele olhar! Toda música, um deleite Evocando muita lembrança Reconheci muito enfeite Da Paladina, do Xique-Xique e da festança Pois que venha mais azeite! Nos livros da Antonieta Eu gostaria de ir morar Seja carmesim ou preta Foi uma prazer identificar Cada referência porreta! Nas fitinhas do Bonfim Teve de tudo, até amarelo Capivara tivemos sim Tão humana e tão caram...
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A vida mentirosa dos adultos

Crescemos! Aí, a vida mentirosa dos adultos vem nos visitar às vezes com um novo sobrenome Então, a amiga genial de repente transmuta-se na filha perdida Talvez seja por ter batido naquela porta um amor incômodo de complexa artesania Nessa ladainha há quem foge e também quem fica Contudo, todos os caminhos Os livros, os manifestos e as poesias terminam, sempre, na mesma romaria *Uma homenagem à obra de Elena Ferrante. ...
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A escorrer

O movimento acusa... Pelas tuas mãos, o que escorre? Poderia ser o meu cabelo Colorido ou não Ao teu a misturar-se Poderia ser o mar Tão bem temperado A refrescar e a invadir Poderia ser a grama Repleta de vida A fazer cócegas Poderia ser a expectativa Poderia ser o vento Poderia ser o tempo Mas não interessa Afinal Definir o que era Quando já escorreu ...
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Muito brega

Somos ondas Esperando o rebentar Seria muito brega Sendo parte do mar Rimar-te com amar? ...
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Ser ou Não Ser Praia

Compartilhou seu mar Outrora tão reservado Transformado em coletivo Pelos novos olhos lá Descobre, porém Que a sua orla Pouco convém Aprenderá a se amar E a não ser (ou ser) A praia de alguém ...
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Rubi I

Aquele pai o pra sempre novo mandou-a mastigar Com voracidade, vamos! Absorver a vida como uma refeição que até possui vários pratos Contudo, o restaurante de decoração caótica vai logo fechar a cozinha Os caninos mordazes Perfuraram a carne Sentindo o calor Que escorria Pela grande boca E por suas beiradas Pedaços rasgados Com sabores de pecado Que alimentaram Apesar de machucar A salivar, surpreendida A morte encontrou a língua Extasiada pelo real Seu apetite, assim, nasceu És tu, ó, ca...
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Calos

Eu me calo E me amarro Esperando que o calo Desapareça Mas tudo que calo Transborda Causa mais calos! Seguindo a Kahlo Não me demorarei ...
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A cortina vai fechar

O roteiro chegou pronto Nos ensaios, levíssimas adaptações, ainda dentro de cada papel. Um espetáculo aos transeuntes Fiscais do certo Dos limites marcados no palco Que esquecem de aplaudir ao final. O que acontece quando a cortina fecha? ...
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Monolito

Vento, suor e sal Temperam vistosa rocha Permanentemente exposta Ao lado do manancial Cósmica, pra sempre, rígida! Pedra das ideias certeiras Queria resistir ao tempo Sem baixar a muralha erigida Mineral condensado De pouca sabedoria Queria ser duro Mas o sabor o amolecia Aquele Monolito Tão estável Tão antigo Esvaiu-se, um dia, em líquido Ah, a beleza do mutável Que de eterno tem o balanço Em seu caráter fluido ...
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Chapação

Aguardado e viciante Inunda peito, pulmões e boca Traz brilho Muita cor Explosões alegres E também vigor Era festa Era chegada Colisões despreocupadas A chapação muda - Alertou a dissidente, Relegada em seu terror Quando o bebia Eram sorrisos e partilha Até que a taça de mãos mudou Na boca de outrem O líquido, já ingerido, azedou E aquele furor outrora ansiado Agora sobe o esôfago Expulsando o que restou ...
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Me dê absolvição

Meus crimes Quase todos eles Foram imaginados por um criativo conservador Que fez morada no meu peito O morador acusou Eu dei minha sentença E já me dirigia às grades Por sorte do destino Surgiu sensata advogada A qual decidiu em meu ouvido soprar Que antes de aceitar a condenação Eu poderia tentar falar Recorri ressignificando Tateando se o criativo acusador Entendia mais de mim Do que eu mesma Parei de aceitá-lo Vem, escuta aqui As algemas se abrindo! ...
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Perto e Longe

Perto Longe Protege Corrompe Cabeça baixa Olhos escondidos Tremores contidos Perto Longe Arrepio Desmonte Cabeça erguida Olhos fechados Fuga tramada Perto Longe Sede Afronte Respiros cortados Janelas abertas Revolução! Nem perto Nem longe É troca! De horizonte ...
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Artesania

O novelo pesa Mas a artesania Transforma aqueles nós Em belas poesias ...
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Solar

Alimento meu sol Com pitangas Com amizades Com corridas Com cremes Com livros Com café especial Virando de ponta cabeça Puxando meus braços Aprendendo que meu corpo Apesar do sombreado É muito solar ...
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Sombra

Sabe esta sombra? Esta aqui, tão alongada Ela também sou eu Não precisa ter medo ...
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Maneiras de perder um pensamento

Escrever e queimar Depois encharcar Rasgar Pisotear Varrer Excluir arquivos Despublicar Suprimir Deletar Abandonar a mensagem Editar Jogar no colo do amigo No da terapeuta No do desconhecido Jogar-se! Gritar Correr Quantos quilômetros ainda faltam pra funcionar? ...
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Poema desnudo

As vestes do poema, Antes de ele ver o mundo, Às vezes você não troca. Aí, quando já é tarde, Vê-se que ele saiu desnudo ...
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Nunca mais

Nunca mais! Porém, antes disso, Sempre só mais um pouco ...
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Fruta fresca

Me acostumei Para fortalecer-me À fruta fresca que trazias Tua árvore secou? Na rua vazia Vejo que era apenas uma estação. ...
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Sobre as músicas

Uma música de protesto Outra de dor Essa de riso Mas todas, ou quase isso, Sobre amor. ...
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Queria te contar

Queria te contar Que lembrei de ti Daquele conselho que achei bobo Que por acaso fez sentido Queria te contar das marcas Que não imaginas ter deixado De que antes de me decidir Tento pensar na tua reação Queria te contar da saudade Da risada compartilhada Do café derramado E até do abraço que não veio Tanto a falar A muitos que amei E ainda carrego aqui Mas a boca emperra E o ridículo, tão temido, Jamais chegará Queria te contar Mas, na conveniência do amanhã, Eu me perdi Será que o peso D...
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De ponto em ponto

Como um ônibus velho Os sentimentos sacolejam Rangem Pulam de um ponto a outro Não param de circular Mesmo no trânsito O motor trepida. É a angústia De não saber quem vai partir E quem vai chegar Surgem espaços Todos sentam Haverá tranquilidade? Até que chega, barulhento, Um novo passageiro Com sua música alta Que divide os demais tripulantes Metade finge devanear Enquanto seus ombros Dançantes Denunciam o interesse A outra parcela Retirada de seu torpor Faria de tudo Pra calar aquela cançã...
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