J

J_Leyva

Em que anotação ficou perdida a minha face? Alguém acostumada a perder textos, seja por desorganização, seja intencionalmente, rsrs.

Run, Menine, Run!

Corre tanto Sobe, desce Tá perdida Mais um pouco Terceiro turno Cabeça enlouquece Mês virou Vai melhorar Estica o tempo Comprime o peito Esquece o travesseiro Esquece que é sujeito E assim se sujeita À exploração À ausência de chão Ao excesso de perdão Menos pra ela, não! Cadê o céu? Cadê o abraço? Cadê o café? Cadê esse laço? Tropeça Não para Machucado aberto Ferida na cara Sangue perdido Jamais reposto Anemia múltipla Corredor de desgosto Repete e repete O ciclo de Lola Salva ning...
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Num amanhecer cósmico

Na malha flexível Teu espaço e teu tempo Às vezes encontram os meus Outros objetos massivos Uns inesperados, outros previstos Desviam as trajetórias A gravidade muda Torna a vida maleável No aguardo da próxima onda A cada curva Um deslizar No anseio da expansão São todas colisões incertas De energia ímpar Capazes de construir e de arrasar ...
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Poemas às crianças, de um cinamomo

O sol que me tocava Alimento fornecia Mas as crianças, Ao me cercarem, Enchiam-me de euforia A bola chutada O pega-pega sem par O esconde-esconde de férias A alegria de inventar Minhas ramificações Que julgava fortes Suavizaram-se com as risadas E com lágrimas a tragar De tanto ouvir "sinamão" Percebi que os já crescidos Forjados na solidão, Discretos vinham me cumprimentar Quando oca me tornei A fim de me preencher Ofereceram-me Martelos Carrinhos Segredos infantis Liv...
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Poema ao "sinamão"

A sombra fazia morada A abrigar passinhos travessos Em seus galhos, tão antigos E no tronco super espesso Servia de esconderijo De paz aos miúdos felizes Era também fortaleza E goleira de aprendizes Tão grande aos pequenos Sua cepa virava três Engolia martelos e carrinhos Conforme as folias da vez Até leitora abrigava Nos recantos da madeira Ah, frondosa árvore Nessa vida ligeira As crianças de outrora Cresceram, foram embora... As memórias dessa árvore Só tenho as que vivi Que ela guarde n...
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Meias & Metades

Um quarto que amontoa roupas Limpas, usadas e esquecidas Há, ainda, meias condenadas Que jamais recuperarão o par Os vestidos limpos Mas dispensados Espiam as lingeries Aguardando o dia de uso Ou de descarte Na miscelânea, o perfume invade Escritos, boletos, comprovantes Uma garrafa de água Outra de vinho (vazia) Cabos que não conectam Fones que insistem em disparar Livros parcialmente lidos Contos meio elaborados Um rio de metades a acumular Além de superfície Do que teima em saltar Na...
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Aração

Sem oxigênio, Na terra fraca, As raízes definham O solo compacto, De pouco nutriente, Prejudica as flores O perfume do broto O despontar da rosa A delícia do fruto Exigem Reviro Exigem Mistura: Solo adubado Bem areado Com água certa E cutículas abertas Mas nem só de revirar Sobrevive a planta saudável Que exige, no seu desenhar, A poda de galhos Corte para que o sombrear Não sufoque outro ramo Que se deseja ver brotar Cabe ajuste também De erva daninha Tão bonita, tão fofinha Mas que à ...
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Verde acinzentado

Poemas perdidos Entre taças vazias Capitalismo tardio A cama tão fria O sol escondido No verde acinzentado Lábios divididos O som abafado A louça na pia Anuncia a vida: A que se tecia, Não a proibida Na louca corrida O coração dispara Telefone, conta, chave Boleto pago é coisa rara Há dor a mudar No andar potente De quem não sabe parar O segredo do bolo Não é nada indecente Um pedaço de colo Um carinho de gente ...
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Poema natimorto

Revelo a boca Mas vejo teu rosto A pressa sensível A fuga do escopo Mais um suspiro Mais um aborto Esse poema Já está natimorto ...
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O amor me salvou

O do café elaborado O do abraço inesperado O da visita surpresa O do acolhimento manso O das dicas de tricô O da chave e do riso O da conversa no corredor O da música que chegou O do convite para almoço O do sorriso no rosto O da saúde a perguntar O das covinhas a cuidar O da massagem O da comida a entregar O da passagem O do útero compartilhado O do presente engraçado O das histórias de outro lugar Tanto amor De forma singular Que haja mais dádiva Para compartilhar e compartilhar ...
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Pedaços

Pedaços concedidos Pedaços recusados Pedaços bem servidos Pedaços rejeitados Pedaços deliciosos Pedaços amargos Pedaços ácidos Pedaços de pedaços Pedaços de carne Pedaços de amor Pedaços de colo Pedaços de dor Pedaços de gente Pedaços de mim Pedaços demais Pedaços a despedaçar ...
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Pasito a Pasito

O caminho predestinado Tão limpo, tão reto Esconde os dejetos Embaixo do asfalto A rota parece segura Iluminada e com sinalização Aí surge a aventura De ver alguém na contramão O trilho agora falho De dormentes faltantes Tirou-me da dormência Arracou-me da estante Para fugir do destino Dizem conselhos binários Ou a mordaça abraça Ou a loucura aperta E se, ausente estrada Eu construir a direção? Irei, abrindo matas, Seguindo meu coração. ...
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Confessionário

Quero um confessionário Escondido e confortável Com almofadas para os joelhos Numa penumbra âmbar Que seja quentinho No qual eu possa desmanchar Quero um confessionário A abafar o som dos soluços Com braços a embalar Que não me julgue Não anote, tampouco cobre Que me deixe estourar Quero um confessionário... Por que tanto o quero, afinal? O acolhimento silencioso... Por medo de amigos, do alvoroço Por receio de transbordar ...
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Que vença o melhor (sic)

A vida é um jogo de xadrez Que tem regras básicas De fácil acesso ao público geral Mas há movimentos especiais Conhecidos pelas que dedicam seu tempo à dança das peças Que querem dominar a arte Que ensaiam, treinam ou têm alguém que o faça por elas Que almejam extrair o possível e o impossível das jogadas A vida é um jogo de xadrez... Mas um careca lançador de foguetes sentado a observar pode engolir, de uma só vez, todo o tabuleiro. ...
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Cicatrizes

As cicatrizes me formam A do acidente A da cirurgia A do tombo de bicicleta A da agressão A do fogo A da queda A do parto A da expansão A do medo A da solidão Até a do dentista Tão escondida Mas sentida na boca Igualmente me compõe São todos rastros Visíveis e invisíveis Da minha imensidão ...
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É nosso

Há sangue e suor Com volume e constância Todavia, não há fruto Carregado à distância Nas mãos de relevo rochoso Nos olhos vestidos de insônia No vencido e tortuoso dorso Na subserviência da sobrevivência A riqueza coletiva é sem igual Tanto valor que transborda Disfarçado em cifras e notas Chamado, em duplipensar, de REAL Vale mais uma refeição cheirosa Vale mais um colo quente Vale mais uma sombra frondosa Vale mais uma cama decente Vale mais teu sonho com o meu Valem mais os nossos ...
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Vem cá

No fluxo de águas Onde há abundância O formalismo falece A mensagem colorida Vai despindo-se Revelando seu conjunto De renda fina Vem cá É tudo que basta Sem resposta ...
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Braçadas

Quando vale nadar O caminho inteiro Até um abraço? No balanço das ondas As braçadas são livres Apesar do repuxo Nada-se sozinha Agarrar-se a alguém Que se debate Termina em asfixia ...
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Desmoronamento & Ansiedade

Não foi a Defesa Civil Mas o meu coração Que passou para avisar Que esta estrutura Possui risco de desabar Antes do desmoronamento Quero retirar minhas lembranças Ao menos as mais queridas Os documentos? Esses não Não há tempo a contabilizar A parte mais complicada É a comunicação dos moradores Reticentes em deixar o lar Ou, pior ainda, Podem decidir derrubar algum pilar Confirmando, da engenharia, os temores Já estou pronta Para o detonador ativar ...
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Te extraño

As peças soltas Na palavra cordial São uma piscina turva Com tantas mesclas Minha entranha indica O que a tua palavra nega Te estranho e Te extraño ...
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Repertório para se esconder e chorar

No chuveiro No mar Na pia No escritório Na bicicleta No lavabo No travesseiro No livro No seriado Na corrida Na tosse No jogo Na igreja No cinema Opções não faltam Para os motivos das lágrimas ocultar E para a verdade? Há repertório também? ...
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Cumplicidade

Asfalto e concreto descansam Sem o burburinho dos trabalhadores Tão aglomerados nas pedras Mas já tão distantes Um centro que morre sem gente Repleto de zumbis existenciais De duas espécies, contudo. A escuridão me envolve. O ser da boca cobiçosa e podre chegou perto demais. Na calçada vazia, Aperto o passo Enquanto a voz se afasta A gargalhar Virando a esquina Há livre ponto a embarcar O coração respira Mas são apenas minutos. Até outro zumbi nojento Achar que pode ameaçar No convite pe...
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Siga (ou não) as placas

As labaredas se aproximam O calor a fumaça se misturam Cores intensas e dançantes Que querem, no mínimo, chamuscar O som da sirene acusa Que já passa da hora de fugir Não há ninguém a me guiar? Grita ao vazio Enquanto as chamas riem sem pausa A cabeça vai ao chão Para respirar melhor Com as ideias mais livres Surge a solução: São as placas de saída! Em meio ao caos As setas guiam O avançar é lento Mas constante Agora é só seguir em frente! O excesso de vapores Inebria, confunde e aquece por ...
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Tus e Vocês

Tu não sabes Falar de terceiros Mas teces comentários de segunda Já você prefere Outros verbos Que são seus, mais do que nossos A alegria pura Está na mistura No deslizar das palavras Que mudam o curso da língua E das pessoas Seja contigo Seja consigo Eu consigo misturar E também esquecer ...
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Um poema sobre o clima

Um poema sobre o clima Que busca lugares comuns Preenche elevadores E evita análise de qualquer um Como chove nessa estação! Disse o primeiro, com nublado coração. Pegue o casaco, por favor! Lembrou o segundo; Pois cuidado também é amor. Que calor nessa cidade! Devolveu, com olhos aflitos, Na esperança da verdade. -Te trouxe um guarda-chuva. Falou o outro, em fingido descaso, num carinho de leve, de luva. Agora, esse frio está de matar! Reclamou, aninhando-se: Queria mesmo era se esquentar...
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Desmemórias

Se já se escreveu Sobre amar o perdido Ainda resta confusão? Não há memórias Só fragmentos de histórias Escritas a quatro mãos As coisas não tocadas Certas vezes imaginadas Essas perecerão . . *Baseado no poema Memórias, de Carlos Drummond de Andrade. ...
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Heterocromia

As manchinhas Cada ranhura Os tons de castanho Que se misturam ao verde As lágrimas que mudam a cor Olho nos teus olhos Pra não te esquecer ...
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A esfinge sumiu

O preço do indecifrável Não vem na mordida Mas na falta dela. ...
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Não há resposta

Se a resposta é amor: lamento. Ela vem incompleta Embora não exista solução sem falta novo sem medo crescer sem romper a casca Há pão e tempo: Presente Passado Futuro Não é o dia Tampouco a noite É no alvorecer Ou no crepúsculo Que se vislumbra possibilidade ...
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Severinices

Para a obra do Ian honrar que entregou tanta brasilidade de um jeito torto, vou tentar contar da minha saudade do Dendê daquele olhar! Toda música, um deleite Evocando muita lembrança Reconheci muito enfeite Da Paladina, do Xique-Xique e da festança Pois que venha mais azeite! Nos livros da Antonieta Eu gostaria de ir morar Seja carmesim ou preta Foi uma prazer identificar Cada referência porreta! Nas fitinhas do Bonfim Teve de tudo, até amarelo Capivara tivemos sim Tão humana e tão caram...
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A vida mentirosa dos adultos

Crescemos! Aí, a vida mentirosa dos adultos vem nos visitar às vezes com um novo sobrenome Então, a amiga genial de repente transmuta-se na filha perdida Talvez seja por ter batido naquela porta um amor incômodo de complexa artesania Nessa ladainha há quem foge e também quem fica Contudo, todos os caminhos Os livros, os manifestos e as poesias terminam, sempre, na mesma romaria *Uma homenagem à obra de Elena Ferrante. ...
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