Desmoronamento & Ansiedade
Não foi a Defesa Civil Mas o meu coração Que passou para avisar Que esta estrutura Possui risco de desabar Antes do desmoronamento Quero retirar minhas lembranças Ao menos as mais queridas Os documentos? Esses não Não há tempo a contabilizar A parte mais complicada É a comunicação dos moradores Reticentes em deixar o lar Ou, pior ainda, Podem decidir derrubar algum pilar Confirmando, da engenharia, os temores Já estou pronta Para o detonador ativar ...
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Te extraño
As peças soltas Na palavra cordial São uma piscina turva Com tantas mesclas Minha entranha indica O que a tua palavra nega Te estranho e Te extraño ...
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Repertório para se esconder e chorar
No chuveiro No mar Na pia No escritório Na bicicleta No lavabo No travesseiro No livro No seriado Na corrida Na tosse No jogo Na igreja No cinema Opções não faltam Para os motivos das lágrimas ocultar E para a verdade? Há repertório também? ...
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Cumplicidade
Asfalto e concreto descansam Sem o burburinho dos trabalhadores Tão aglomerados nas pedras Mas já tão distantes Um centro que morre sem gente Repleto de zumbis existenciais De duas espécies, contudo. A escuridão me envolve. O ser da boca cobiçosa e podre chegou perto demais. Na calçada vazia, Aperto o passo Enquanto a voz se afasta A gargalhar Virando a esquina Há livre ponto a embarcar O coração respira Mas são apenas minutos. Até outro zumbi nojento Achar que pode ameaçar No convite pe...
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Siga (ou não) as placas
As labaredas se aproximam O calor a fumaça se misturam Cores intensas e dançantes Que querem, no mínimo, chamuscar O som da sirene acusa Que já passa da hora de fugir Não há ninguém a me guiar? Grita ao vazio Enquanto as chamas riem sem pausa A cabeça vai ao chão Para respirar melhor Com as ideias mais livres Surge a solução: São as placas de saída! Em meio ao caos As setas guiam O avançar é lento Mas constante Agora é só seguir em frente! O excesso de vapores Inebria, confunde e aquece por ...
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Tus e Vocês
Tu não sabes Falar de terceiros Mas teces comentários de segunda Já você prefere Outros verbos Que são seus, mais do que nossos A alegria pura Está na mistura No deslizar das palavras Que mudam o curso da língua E das pessoas Seja contigo Seja consigo Eu consigo misturar E também esquecer ...
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Um poema sobre o clima
Um poema sobre o clima Que busca lugares comuns Preenche elevadores E evita análise de qualquer um Como chove nessa estação! Disse o primeiro, com nublado coração. Pegue o casaco, por favor! Lembrou o segundo; Pois cuidado também é amor. Que calor nessa cidade! Devolveu, com olhos aflitos, Na esperança da verdade. -Te trouxe um guarda-chuva. Falou o outro, em fingido descaso, num carinho de leve, de luva. Agora, esse frio está de matar! Reclamou, aninhando-se: Queria mesmo era se esquentar...
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Desmemórias
Se já se escreveu Sobre amar o perdido Ainda resta confusão? Não há memórias Só fragmentos de histórias Escritas a quatro mãos As coisas não tocadas Certas vezes imaginadas Essas perecerão . . *Baseado no poema Memórias, de Carlos Drummond de Andrade. ...
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Heterocromia
As manchinhas Cada ranhura Os tons de castanho Que se misturam ao verde As lágrimas que mudam a cor Olho nos teus olhos Pra não te esquecer ...
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A esfinge sumiu
O preço do indecifrável Não vem na mordida Mas na falta dela. ...
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Não há resposta
Se a resposta é amor: lamento. Ela vem incompleta Embora não exista solução sem falta novo sem medo crescer sem romper a casca Há pão e tempo: Presente Passado Futuro Não é o dia Tampouco a noite É no alvorecer Ou no crepúsculo Que se vislumbra possibilidade ...
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Severinices
Para a obra do Ian honrar que entregou tanta brasilidade de um jeito torto, vou tentar contar da minha saudade do Dendê daquele olhar! Toda música, um deleite Evocando muita lembrança Reconheci muito enfeite Da Paladina, do Xique-Xique e da festança Pois que venha mais azeite! Nos livros da Antonieta Eu gostaria de ir morar Seja carmesim ou preta Foi uma prazer identificar Cada referência porreta! Nas fitinhas do Bonfim Teve de tudo, até amarelo Capivara tivemos sim Tão humana e tão caram...
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A vida mentirosa dos adultos
Crescemos! Aí, a vida mentirosa dos adultos vem nos visitar às vezes com um novo sobrenome Então, a amiga genial de repente transmuta-se na filha perdida Talvez seja por ter batido naquela porta um amor incômodo de complexa artesania Nessa ladainha há quem foge e também quem fica Contudo, todos os caminhos Os livros, os manifestos e as poesias terminam, sempre, na mesma romaria *Uma homenagem à obra de Elena Ferrante. ...
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A escorrer
O movimento acusa... Pelas tuas mãos, o que escorre? Poderia ser o meu cabelo Colorido ou não Ao teu a misturar-se Poderia ser o mar Tão bem temperado A refrescar e a invadir Poderia ser a grama Repleta de vida A fazer cócegas Poderia ser a expectativa Poderia ser o vento Poderia ser o tempo Mas não interessa Afinal Definir o que era Quando já escorreu ...
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Muito brega
Somos ondas Esperando o rebentar Seria muito brega Sendo parte do mar Rimar-te com amar? ...
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Ser ou Não Ser Praia
Compartilhou seu mar Outrora tão reservado Transformado em coletivo Pelos novos olhos lá Descobre, porém Que a sua orla Pouco convém Aprenderá a se amar E a não ser (ou ser) A praia de alguém ...
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Rubi I
Aquele pai o pra sempre novo mandou-a mastigar Com voracidade, vamos! Absorver a vida como uma refeição que até possui vários pratos Contudo, o restaurante de decoração caótica vai logo fechar a cozinha Os caninos mordazes Perfuraram a carne Sentindo o calor Que escorria Pela grande boca E por suas beiradas Pedaços rasgados Com sabores de pecado Que alimentaram Apesar de machucar A salivar, surpreendida A morte encontrou a língua Extasiada pelo real Seu apetite, assim, nasceu És tu, ó, ca...
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Calos
Eu me calo E me amarro Esperando que o calo Desapareça Mas tudo que calo Transborda Causa mais calos! Seguindo a Kahlo Não me demorarei ...
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A cortina vai fechar
O roteiro chegou pronto Nos ensaios, levíssimas adaptações, ainda dentro de cada papel. Um espetáculo aos transeuntes Fiscais do certo Dos limites marcados no palco Que esquecem de aplaudir ao final. O que acontece quando a cortina fecha? ...
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Monolito
Vento, suor e sal Temperam vistosa rocha Permanentemente exposta Ao lado do manancial Cósmica, pra sempre, rígida! Pedra das ideias certeiras Queria resistir ao tempo Sem baixar a muralha erigida Mineral condensado De pouca sabedoria Queria ser duro Mas o sabor o amolecia Aquele Monolito Tão estável Tão antigo Esvaiu-se, um dia, em líquido Ah, a beleza do mutável Que de eterno tem o balanço Em seu caráter fluido ...
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Chapação
Aguardado e viciante Inunda peito, pulmões e boca Traz brilho Muita cor Explosões alegres E também vigor Era festa Era chegada Colisões despreocupadas A chapação muda - Alertou a dissidente, Relegada em seu terror Quando o bebia Eram sorrisos e partilha Até que a taça de mãos mudou Na boca de outrem O líquido, já ingerido, azedou E aquele furor outrora ansiado Agora sobe o esôfago Expulsando o que restou ...
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Me dê absolvição
Meus crimes Quase todos eles Foram imaginados por um criativo conservador Que fez morada no meu peito O morador acusou Eu dei minha sentença E já me dirigia às grades Por sorte do destino Surgiu sensata advogada A qual decidiu em meu ouvido soprar Que antes de aceitar a condenação Eu poderia tentar falar Recorri ressignificando Tateando se o criativo acusador Entendia mais de mim Do que eu mesma Parei de aceitá-lo Vem, escuta aqui As algemas se abrindo! ...
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Perto e Longe
Perto Longe Protege Corrompe Cabeça baixa Olhos escondidos Tremores contidos Perto Longe Arrepio Desmonte Cabeça erguida Olhos fechados Fuga tramada Perto Longe Sede Afronte Respiros cortados Janelas abertas Revolução! Nem perto Nem longe É troca! De horizonte ...
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Artesania
O novelo pesa Mas a artesania Transforma aqueles nós Em belas poesias ...
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Solar
Alimento meu sol Com pitangas Com amizades Com corridas Com cremes Com livros Com café especial Virando de ponta cabeça Puxando meus braços Aprendendo que meu corpo Apesar do sombreado É muito solar ...
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Sombra
Sabe esta sombra? Esta aqui, tão alongada Ela também sou eu Não precisa ter medo ...
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Maneiras de perder um pensamento
Escrever e queimar Depois encharcar Rasgar Pisotear Varrer Excluir arquivos Despublicar Suprimir Deletar Abandonar a mensagem Editar Jogar no colo do amigo No da terapeuta No do desconhecido Jogar-se! Gritar Correr Quantos quilômetros ainda faltam pra funcionar? ...
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Poema desnudo
As vestes do poema, Antes de ele ver o mundo, Às vezes você não troca. Aí, quando já é tarde, Vê-se que ele saiu desnudo ...
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Nunca mais
Nunca mais! Porém, antes disso, Sempre só mais um pouco ...
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Fruta fresca
Me acostumei Para fortalecer-me À fruta fresca que trazias Tua árvore secou? Na rua vazia Vejo que era apenas uma estação. ...
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Sobre as músicas
Uma música de protesto Outra de dor Essa de riso Mas todas, ou quase isso, Sobre amor. ...
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Queria te contar
Queria te contar Que lembrei de ti Daquele conselho que achei bobo Que por acaso fez sentido Queria te contar das marcas Que não imaginas ter deixado De que antes de me decidir Tento pensar na tua reação Queria te contar da saudade Da risada compartilhada Do café derramado E até do abraço que não veio Tanto a falar A muitos que amei E ainda carrego aqui Mas a boca emperra E o ridículo, tão temido, Jamais chegará Queria te contar Mas, na conveniência do amanhã, Eu me perdi Será que o peso D...
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De ponto em ponto
Como um ônibus velho Os sentimentos sacolejam Rangem Pulam de um ponto a outro Não param de circular Mesmo no trânsito O motor trepida. É a angústia De não saber quem vai partir E quem vai chegar Surgem espaços Todos sentam Haverá tranquilidade? Até que chega, barulhento, Um novo passageiro Com sua música alta Que divide os demais tripulantes Metade finge devanear Enquanto seus ombros Dançantes Denunciam o interesse A outra parcela Retirada de seu torpor Faria de tudo Pra calar aquela cançã...
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Releio poemas
Releio poemas Esperando extrair o suco Entender o olhar Compreender a entonação Se o gesto foi uma vírgula Se foi só um erro Ou se perder pedaços, Na verdade, Era só uma estratégia (Que me deteve). Releio poemas Como quem busca o sol A admirar todo o mistério Da sua revelação Releio poemas Com sede A trancar a respiração Ansiando pelo arrepio E pelo soco Que revolvem as minhas entranhas E também aquecem meu coração Releio poemas Que me embaraçam Me tornam distante E, ao mesmo tempo, Me aproxi...
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Lamúrias de uma louça velha
Sou uma xícara, Lascada e sem alça. Meu corpo carrega As marcas de muito café. Sem pires, navego a tremelicar Meu líquido quente Queima Energiza também Pode até matar Faço de tudo Para não ser descartada Inclusive É por isso que tanto temo O meu iminente transbordar ...
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Laçadas manuais
Os pontos continuam Mesmo estando alguns soltos A linha e a agulha Unidas Permanecem dançando Cada nó um momento Um brilho Uma dor Uma risada Um amor. A laçada refeita Reforça o caminho Laçadas duplas Triplas Criam novos desenhos À mão do observador E se a linha acabou? Pode vir a emenda E uma nova linha, Para a mesma agulha, Sempre a dançar Também pode a linha Outros padrões buscar Uma agulha mais grossa De resultado ímpar Pequenos ou longos Muitos nós na peça unida E poucos, muito poucos...
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Panelinhas
Há as panelas que se encaixam Há as panelas que se excluem, por incompatibilidade de se amontoarem confortavelmente. Muitas panelas têm arroz... Mas algumas não Algumas parecem panelas... Porém são só peneiras para posterior realocação na panela adequada Algumas servem só pra fritar. O material da panela também influencia no seu conteúdo. As de barro, que primam pelo sabor, podem quebrar. As de ferro aquecem bem. Mas são pesadas de transportar, nem todo mundo consegue. Há, também, a mentir...
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Na terra de Morfeu, onde as liberdades se deitam.
Com ideias a soprar A voz clamou-se livre. O pincel, dançante, corrigiu-a Com expressões a delinear. A caneta o interrompeu, Pois a profundidade das palavras libertas Só ela deteria. O teclado, risonho, Tripudiou das velharias E exibiu sua A M P L I T U D E Suas edições E sua velocidade Livre, como o vento! Chegou o sonho E abocanhou todos Num rodopio eterno Para as correntes soltar Na terra de Morfeu Onde as liberdades se deitam ...
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Certos e Errados
A recusa da boca A figos lustrosos De certa suculência Sombrios e iluminados Frios e aquecidos Tortos e endireitados De grande raridade Impõem respeito E medo por abocanhar Santos e amaldiçoados Profanos e sagrados Rebaixados e exaltados De cores únicas Com observações mil Que chegam a pesar Impasses e passos Figos e afagos Certos e errados ...
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Suspenso em acomodação
O pêndulo estica... Outro puxão! Ele volta à frente Depois mais à esquerda Até mesmo gira Sem nunca parar A dança constante De palavras não ditas Dos amigos a puxar E também dos congressistas Dos sindicatos a protestar Do patrão em revista Até mesmo do Chico Que já sabe o que será Uma dança da língua Um cavalo a serpentear E o peão inova na diagonal Há um sopro de fora Outra mudança sazonal O balanço invisível Teima em persistir Os discursos se deslocam Num infinito ir e vir O sossegar e a ...
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A Onça e a Lebre
Uma onça amiga, de grandes garras E sinceros movimentos, Que, até por não poder, Não esconde o seu intento Gargalha com a boca cheia de dentes E nunca trapaça Ao teu lado, o felino te protege de ameaças. Já a lebre fofa descansa O gesto manso A amigável fala O sorriso que embala O reconforto dos gestos E do pelo bonitinho Mas há um serpentear Um abraço agridoce A patinha branca a armar Algo que não encaixa Num penhasco: eu viraria minhas costas para ti? ...
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Leves Pesos, Pesos Leves
No voo ágil A face respira, livre Inexistem correntes Só o ir e vir de gente, De cores, de sementes. Que a deusa me livre da terra! Do seu pesar Das cicatrizes causadas Pelos tombos a encontrar Porém, além de pedras Pequenas, grandes, gastas e pontiagudas, Há algumas raízes E também delicada flor Que insiste em despontar Esse eterno equilíbrio Entre o voo e o aterrissar ...
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Uma Plantinha
A palavra não dita Virou uma semente E então, de repente Germinou inaudita Afinal, o solo era fértil Que medos escondia Na fresta nada sutil Mas tempo de sobra havia! Fez-se pouco caso Do brotinho que nascia Já que árvore antiga Ainda bem florescia Passada a primavera Com as folhas a despontar Assustou-se o jardineiro E tentou-a abafar Sem cortar devidamente Sem permitir-lhe ventilar Aumentava a torrente De galhos a se espalhar! A planta desenvolveu-se E podar-lhe não era simples Lembrou...
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Corra!
Ritmo, cadência, ordem O coração acelera O sol atinge minha face Os passos aumentam O despertar na madrugada... Sinto que sou dona de mim Mas também do mundo! Corro e sinto o suor A pulsação alegre A durabilidade Meu corpo feliz Até aquele som Repetido, tão meu, Me volta ao agora. Mas, outra vez, Vem aquela sede O medo de perder Derrubo-me insone Quebras, cafés e caos A luz não me toca Meus passos retardam Até parar. O descompasso Vem das pernas Vem da alma Adentra os poros O equilíbrio ...
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Pra te encontrar
Pra te encontrar Vasculhei salões, Com esmero Senti a rebentação E mantive-me ali Com sede e quase forte Peças caíram, aos poucos Um brinco festivo demais Uma música inadequada Até uns sorrisos deixei Porque me ensinaram assim Que amor é penitência Então, Pra te encontrar Eu me perdi ...
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O Grito
Sob pressão O burburinho cresce Os vapores escapam A explosão a chegar... Mas há tempo para fuga; O silêncio voltará! Enterre! Mais fundo, vamos! Agora uma camada de grama Para esconder a terra revirada Só falta o solo na unha Terminar de lavar Na pia, concentração Silêncio. O correr da água O aliviar anuncia Na busca da toalha, Olhos erguidos. Piscinas fundas Que encaram Questionam E, por fim, terminam por gritar. O espelho contou O que não queria escutar ...
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Métricas de amor
Quanto mede cada amor? Decidiu investigar Não para amar melhor Mas para classificar Escolheu o tema Correu aos objetivos Cogitou hipóteses Definiu o método Passou, então, A distribuir notas Porque cada sentir Tinha certa resposta A nota do beijo O valor do olhar A risada sincera O toque sem par A conversa agradável E o colo mais quente O corpo mais flexível E a voz mais potente No afinco em medir Esqueceu de considerar Que os sujeitos observados Também estão a observar As notas escaparam, ...
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Haicai
Passam estações Tuas coisas escondidas Voltam a boiar ...
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Pequeno conto de um animal doméstico
Na noite silenciosa Vagava naquele mato Doméstico gato, De pouco ardil. Suas pernas manhosas Levaram-no a uma clareira Iluminada por uma fogueira De um ser pouco sutil Sua cabeleira era frondosa Exibia longas e gentis garras Enquanto dançava em algazarra Ao redor do caldeirão anil A boca farta era prosa E o felino, meio idiota Partiu logo em resposta Sem temer o desafio Lágrimas rolaram, tinhosas O gato ronronando estava A poção estalava E o caldeirão zuniu A sua mistura aquosa Exalava nov...
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Haicais 2020-2022
*Muitos desses haicais não seguem a contagem de sílabas poéticas ideal. Mas eu gosto deles mesmo assim, rsrsr :) Não vi o ônibus Dormi no ponto Perdi o haicai Bobeiras da vida O vento leva tudo Colhe-as, rápido! O butiá cresce A cachaça aguarda Vê outro copo! Coração palpita O odor da cana cidreira Cortou a tensão Dancei nu em colo Ninho quentinho chamou Aconcheguei-me Caí nessa lábia Esperei doce sorvete Sorvi o vento. A cada palavra Uma conexão tentada Pode ser perdida Acorda, segue o ...
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A uma inimiga
Pisoteio a ti Tento com força Arrancar-te do espaço E suprimir quem tem Aquilo que tanto me falta Que me faz tremer Teorizando tragédias Sobre meu esquecimento E o teu rubro brilhar Escutando (f)utilidades Sobre ti aprendi Terceiros tão próximos, meus Teciam relatos teus Enquanto me nutriam E tonalizavam cicatrizes Meu intento de abafar-te Vem deste colo quente Feito de ternura Que te construíram O qual não tens direito Não sabes tu Que eu também Quero o que é terno? A eternidade, porém De...
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Não sou o homem atrás do bigode
Quando nasci Um anjo cristão, que se diz da luz Disse: Outra menina! Ah, que pena Antes outro varão por aqui As corridas são visíveis Porém somente algumas delas Distraída, vendo a rua Não se nota todos os arquejos As mensagens passam Em línguas coloridas e diversas Parece uma eterna festa Mas em que esquina as lágrimas se escondem? A mulher atrás do batom Tem ódio, sede e desejos Muito conversa Mas pouco sobre o que interessa Tem muitos e, ao mesmo tempo, poucos amigos. A mulher atrás dos ó...
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Parece que o jogo virou
Entre blefes e apostas Juntaram-se espontâneas cartas De dúbio valor, contudo. O dois com o valete dançou Já o três enlaçou a dama E o seis brindou com o rei. Enquanto isso, alegres, Sustentando suas posições, Os coringas sorriam. A alegria dos encontros Possíveis entre diversos Dava-se no jogo sincero. Afinal, naquele castelo de cartas Havia peões com coroas E quase flutuando no topo! Talvez fosse o vento Uma mudança climática Ou quem sabe o sopro daqueles lábios Mas empurrou-se a base. ...
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Rascunhar-se
Os rabiscos surgem nas bordas As ideias adentram as frestas Cada qual senta em um canto Aguardando a anunciada festa O pensamento está nas beiradas Mas não ingressa o salão principal Vive de muitos ensaios Esperando o bendito aval Autorização que nunca chega Que não se sabe de onde virá Acumulam-se os esboços No aguardo do alvará Se o texto está a lápis Ou ainda no bloco de notas Mantém-se provisório Prevenindo qualquer derrota Sem maiores permissões Os rascunhos estão em latência Rascunhar-...
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Contar
Brincando de faz de conta As contas caíram ao chão Contei as contas caídas Em um conto feito à mão Das contagens das contas Entreguei-me à operação Mas talvez melhor fosse O conto da emoção A cada conto contado ou cantado Mais continuações convêm Suas contínuas contagens Compartilham o que contêm Ao contar cada conto ou cantar Elabora-se um novo conto Criado de outras contas Cosidas no colar sem ponto. Pronto! No canto daquela ponta Contei e cantei, para então recontar Ao cantar o que cont...
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Os furos que me perpassam
Os furos que me perpassam Fazem de mim quem sou Marcam espaços e ausências Também desejos e partidas Vontades e indecências E outras alegrias contidas Os furos que me perpassam Podem doer ainda ao tocar Expõem todas as feridas De difícil cicatrização Não mexa na casquinha exibida! Já que é custosa a contenção Os furos que me perpassam Gritam mais do que eu gostaria Têm formatos e áreas sombrias; Mas também a luz deixam chegar Até há certas covardias Escondidas de par em par Os furos que me ...
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Tic, Tac
O trabalho O relógio O descanso Bebe água! O chefe liga O cliente pede O prazo apertou A meta triplica Seja mindfulness! Todos dão conta Só você que não Vença o capitalismo, bebê Ou o fracasso é você ...
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Cacos
A vida ficou trancada Ante a busca dos retalhos. Em meio a muito entulho Insistia em catar pedaços Amostras grátis do outro Misturadas ao bagunçado vazio Porém, inebriantes e breves E que o aqueciam no frio. Os cacos em meio ao caos Também podiam ferir Num espelho, viu sua lágrima E cortou-se com bastante sentir Entre entalhes e trapos A vida arrastava-se ali Até que o último talho Fez-lhe almejar sair Na confusão permaneceria Despida da busca de partes Queria um cobertor inteiro E não apena...
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Conjunções
Queria dispensar o "ou" E ter uma vida repleta de "e" Viveu, porém, em péssima associação de conjunções E morreu com uma infinidade de "ses " ...
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Liberdade para outra ave
Em meio à constante vigília Ave ansiosa encontrei Suas asas parecem as minhas Restritas pelo mesmo rei Escapamos pela imaginação Em cada cesto a confabular Discutindo se haverá força Para quem sabe pular Saltar para a novidade Para o futuro construir Com o vento em nossas faces E os parceiros a seguir Voar ao desconhecido Mas também ao familiar Ao que se julgou perdido Consumido em algum mar Se gaivotas fôssemos Sobrevoando o litoral de emoções Mais fácil identificaríamos Os terrenos com dep...
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ME DEVOLVE O CONTROLE
A roda da vida segue num laço Tem balanço E tem compasso A música tema toca ao fundo Será o momento épico dessa história? “O controle caiu e quebrou!” Exclama o espectador angustiado. Mas e se ele nunca existiu? “Vamos consertá-lo, procurem pilhas!” Exalta-se o pobre homem. Procura a pilha Procura o conserto Procura dicas digitais Procure, procure! Batidinhas no equipamento Botões apertados com força Acessos de fúria No fim, o tempo passou E o espectador, distraído, Perdeu o ápice da roda da ...
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Sabotei-me
O primeiro gole Dá aquele tempo necessário Às ideias organizar Se cada hora é um calvário Como posso me acalmar? Uma pausa: respirar Onde encontro a saída? Se não sei onde chegar Permanecerei perdida Solta em pensamentos Em no que poderá virar Esquecendo por completo Que o dia vai raiar Planos muitos eu já fiz Sempre disposta a sonhar Duvidando todo dia Quando o tempo irá chegar Essa mistura frequente Pouco prática se mostra De sabor adstringente Até a língua entorta Devaneios constantes e ...
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Distâncias
Há distâncias que não se medem Mas se sentem Seja o espaço entre o início e o final da frase Seja o intervalo entre mim e ti Que pode ser de três caracteres Ou de uma parede Ou de mares Ou de um beijo Ou de uma conjunção Ou daquela palavra engasgada e não dita Aquelas sílabas ficaram entre nós Acomodaram-se e ampliaram espaços Que embora não vistos São palpáveis Será que ainda dá tempo de varrermos esses dizeres? ...
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Bit Flip
E se a certeza digital For abalada por um raio? Que radiante adentra o manto De um belo transistor E por meio de um encanto Deixa um zero transpor De pequena alteração Muda-se aquele voo Bem como uma eleição. Também se sente o sopro Da referida criação Difícil explicar, pois Ao humano cruel Que o evento perdido Foi culpa do céu... A cada pesquisa O problema não foi achado O Universo avisa: Prezados, Houve um bit flip inesperado ...
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Múltiplos
Quantas poesias Cabem em um ser? E se o indivíduo Puder várias faces conter? Na triste esconde as feridas Na feliz exibe sucessos Na malandra estão os gingados Na sensual há muitas gavetas Na confusa cabe a bagunça Na raivosa há um saco de pancadas Em busca de poéticos rostos Põe-se a girar Vê-se a face contente Pouco antes de entontar Ela, assim como outras Está a multiplicar e multiplicar! ...
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Desassossegos
O primeiro visita os cômodos Procurando o que já partiu No quarto abre gavetas Considerando o presente hostil O segundo na mesa está Teorizando o que poderia ser Grandioso futuro do pretérito Dono de figos a morrer O terceiro olha o espelho Reclamando de enxergar Se a cicatriz ainda está viva Será que cabe apagar? Cada qual não percebe o habitante Sentando a se embalar Olhando para o horizonte Sem sentir, ver ou cheirar A salvação do pobre ser Pode estar num mate Quando seus desassossegos De...
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Tesouradas
Cuidado, atenção, corte Atenção, cuidado, corte Corte, cuidado, atenção Manteve-se o cuidado E a plena atenção Cortou-se bem alinhado O tecido da criação Ao admirar parte da obra Esvaiu-se a atenção Cuidado! O corte vem! E dessa vez na sua mão O corte sangrando está Manchando o tecido caro A final tesourada Desperdiçou todo o preparo ...
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Impermanências
A alegria da existência Não encontrei em mim Fui persegui-la em ti E ela também escapou Busquei-a nas catedrais Mas aos discursos e aos cânticos Não me apegava jamais Talvez então nos vícios Ela decida se enraizar As apostas, a bebida e os suplícios Só me fizeram amargurar As telas do consumo falaram Que a felicidade lá é permanente Vendi a alma ao banco E permaneci descontente Donde está essa bendita? Seu sabor era promessa Para matar a sede maldita Onde verei esse oásis? Seu refresco era...
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Essa mensagem foi suprimida
Essa mensagem foi suprimida Ou seria um teste? As coisas escondidas Não apagam o que fizeste As marcas estão ali Seja no (não) texto, seja no olhar As palavras as quais perdi Me revolvem como o mar As ondas acabam voltando, ardidas Mas eu só queria dizer... Essa mensagem foi suprimida. ...
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