Vida de Inseto

Na cozinha aconchegante, uma pequena mosca pousa sobre um bolo de fubá ainda enformado. O inseto aproveita-se dos vãos decorrentes do crochê amarelo, na toalha branca, que recobre a iguaria: é hora de colocar os ovos.

Na bancada, de costas, a senhora de casaco cor creme e cabelo chanel acende o fogo para preparar o chá, alheia à companheira que a observa.

Os fios brancos reluzem com os raios de fim de tarde, que entram pelo basculante. As mãos repletas de vincos retiram a caneca do armário. A mosca observa, à espreita de novos locais para atuar.

Um tiro seco. A xícara cai e se parte em pequenos cacos.

O cabelo tinge-se de vermelho, e a cor espalha-se pelo chão de pisos azuis. Assustada, a mosca voa, atenta à idosa imóvel e à piscina colorida que se forma.

Ela escuta passos rápidos e uma batida de porta. Depois, mais silêncio.

A mosca pousa sobre a fenda na cabeça, fresca e úmida. É hora de colocar mais ovos.

*Sem uso de IA. É só um exercício de escrita. E uma comemoração ao gore, ao terror e às velhinhas que sustentam a nossa vida.


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