Hoje matei um poema

Hoje matei um poema
De propósito, afoguei-o
Vi seus olhos brilharem
Enquanto se debatia

Hoje matei um poema
Decidi trocar as palavras
Mudar-lhe a cor
Tampar a sua essência

Hoje matei um poema
Que optei por velar
Antes do nascimento
Com flores permanentes

Hoje matei um poema
Que teimava denunciar
Despir o que não deveria
Semelhanças a indicar

Hoje matei um poema
Cobri com terra e com plantas
Aquelas que não podem germinar
Sem sentir, a plastificar

Hoje matei um poema
Não foi rápido
As mãos ficaram sujas
E a tinta ficou na garganta
(Ou seria sangue?)

Ontem matei um poema
Por acidente, por descuido
Doeu diferente: um grito seco
E ele se foi em paz

Hoje matei outro poema
Mas o de agora
Morto com vontade
Insiste em assombrar


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