Comendo papel

Mastigar as fibras de celulose
Sentir as texturas
Mas não a seiva da árvore

O sabor não chega:
Ainda que haja sal lacrimal
é menos do que o suficiente

Na ausência, na dor e no medo
Resta provar à força
Em busca de algum nutriente

Os dentes se movem
Já que não podem gritar
A garganta, que poderia fazer algo, emperra
Se nega a engolir

O estômago reclama
Os olhos doem
E a cabeça flutua

Corpo no papel,
O resto a levitar.
Longe, perto, muito apertado

É preciso triturar
Destruir as provas
Até um ressignificar

Fui comer o papel
E ele me comeu
Acho que vou vomitá-lo

*Eu não aguento mais comer papel. Quero que passe. Por favor.


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