Meias & Metades

Um quarto que amontoa roupas
Limpas, usadas e esquecidas
Há, ainda, meias condenadas
Que jamais recuperarão o par

Os vestidos limpos
Mas dispensados
Espiam as lingeries
Aguardando o dia de uso
Ou de descarte

Na miscelânea, o perfume invade
Escritos, boletos, comprovantes
Uma garrafa de água
Outra de vinho (vazia)

Cabos que não conectam
Fones que insistem em disparar
Livros parcialmente lidos
Contos meio elaborados
Um rio de metades a acumular

Além de superfície
Do que teima em saltar
Na eterna pressa
Não se encontra nada

Na cama destinada ao abraço
Na travesseiro que era paz
Deita-se em estilhaços
Levemente afastados
Na esperança de um sonhar

Esse espelho (in)cômodo
Tão seu, tão abandonado
Que grita por meio de peças
Na esperança de um cuidado


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