Para a glória de Deus, nosso mundo é ambíguo


A ambiguidade como caráter bom do mundo


Pare e pense: Nesse mundo o ser humano pôde tirar da natureza, através de sua capacidade cognitiva, o conhecimento necessário para produzir uma ferramenta afiada; agora ele pode usá-la para cortar uma fruta de casca dura, que somente dessa forma irá usufrui-la para se alimentar; essa mesma capacidade de criar uma ferramenta afiada que realize cortes na fruta, pode ser usada para cortar qualquer coisa, incluindo: Sua esposa, seus pais, seus filhos, outras pessoas, a si mesmo e outros animais. A possibilidade do mal: imputar dor e sofrimento é uma realidade. E está ligada a mesma realidade que possibilita fazer uso daquela ferramenta cortante para alimentar sua esposa, seus pais, seus filhos, outras pessoas, a si mesmo e outros animais, eventualmente. Percebe a ambiguidade da existência? 


Posso ser mais descritivo: a realidade do mundo existente ao nosso redor nos fornece a possibilidade de criar uma faca; posso usar essa faca para decapitar meu filho recém nascido, ou mesmo rasgar a barriga de uma mãe grávida e tirar a criança de lá, matando a mãe e o filho. Mas posso com essa mesma possibilidade que a realidade do mundo existente me fornece, criar uma faca e com ela cortar uma melancia e alimentar minha esposa grávida.


Esse é o caráter ambíguo da existência. Mal e bem parecem coexistir, muito além de mera possibilidade, mas ser um fator intrínseco da própria realidade. Mas porque disso? Bem, só assim poderíamos conhecer o caráter de Deus.


Como um Deus bom e amoroso pode ser reconhecido onde a realidade da existência é plenamente boa e amorosa de maneira intrínseca em si mesma? Não haveria diferença entre o Criador e a criação. Cairíamos num panteísmo, certamente. Sequer seriamos capaz de compreender a existência de um Deus pessoal.


Digo mais: a própria criação seria um tipo de deus em si mesma, e não seriamos capazes de compreender e amar o Deus criador, uma vez que a própria criação têm as mesmas características de Deus, ou, parece possuir as mesmas características de Deus a ponto de nós não sermos capaz de discernir entre a criação e o Criador.


O mundo quando Deus criou estava direcionado para o bem, o bom; mas traçamos uma direção oposta. Daí se entende a necessidade de salvação por intermédio de Cristo e a promessa de uma nova Jerusalém. Importante lembrarmos que o homem quando adora a criação e não ao Criador, é acusado de idolatria (corretamente!). Ambos não podem se confundir de maneira alguma.


Nosso mundo é ambíguo para que a glória de Deus se manifeste, e que nós, dotados do livre-arbítrio possamos amar verdadeiramente a Deus; termos conhecimento e reconhecê-lo diante da existência, e enfim, optemos pelos caminhos do Senhor que são bons e justos.


Se compreendermos profundamente isso, podemos começar a pensar numa antropologia teológica no qual possui em sua centralidade a dependência extrema de Deus. Sem Ele nada somos e nada podemos. Estaríamos condenados a morte eterna se o amor de Deus não fosse tão grande em nos salvar de nós mesmos através do sacrifício de Cristo na cruz.

O mundo como um meio de possibilidades ambíguas abre espaço para o agir de Deus com seu amor e bondade; nós criamos a imagem e semelhança de Deus também podemos agir conforme a vontade de Deus. Se não fosse assim, então o bem que faríamos seria simplesmente porque não temos outra opção, portanto, anularia o bem real.


Isso não diminui o problema e relevância do mal. Mas também não é minha pretensão de desenvolver uma nova teodiceia. Apenas aponto que a superação desse mal é Deus e somente Deus. Sua promessa culmina na nova Jerusalém, no mesmo corpo glorificado de Cristo.


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