Queijo

Várias prateleiras com peças inteiras de queijo.

Queijo tinha um cabelo ondulado e moreno. Oleosamente chamou atenção de meus olhos no começo daquele ano. Não que ele havia mudado de um ano para o outro, mas a oleosidade me atingiu como uma bomba. Um canhão furioso e nuclearmente explosivo, lançou sua munição anos antes, até finalmente me atingir. Não conseguia entender como aquele era um canhão tão poderoso. Caramba, nem sabia que era um canhão. Era vista como inocente; suas tendências apaixonadamente violentas foram descobertas por mim.

Queijo usava uma calça. Não há nada de especial aqui: era uma calça normal. Azul, jeans com decorações de falso brilhantes nos bolsos da parte traseira, que formavam um desenho comum, mas sem congruência com qualquer gravura que já vi. Lá estava aquele desenho comum, na calça comum. Não perfeitamente justa, um pouco solta, em contraste com todas as calças justíssimas de todas as outras garotas. Hipster! Não, diferente… Não! Especial. A calça era especial, e Queijo era especial.

Queijo me fazia produzir notas. A oleosidade e a calça eram incompreensíveis. Suas formas eram inexplicáveis, suas consequências imensuráveis. Uma unidade de uma boa oleosidade e uma unidade de calça me faziam girar, revirar e escrever. Escrita livre, leve, solta, com intenção de que fossem vistas. Nunca foram. Sempre escondidas, porém com suas existências conhecidas pelo público em geral. Nunca por Queijo. Queijo saber das notas providas de sua oleosidade e calça era um perigo constante, evitável e desejável. Não viu, ainda bem. Queria que tivesse visto.

Queijo era confusa. De todos os sim, alguns não surgia. Confuso, valorizava mais o não do que o sim. Ainda confuso, pedia explicações dos sim, respondidas e refutadas com mais não. O não era ruim, pior quando precedidos de sim. O jogo de sim e não sustentou por anos a química transtornada que sentia por Queijo. Pensava no sim, fugia do não, recebia sim e não. Me questiono se ela sabia o que fazia.

Queijo foi embora. Sua oleosidade e calça se mudaram, minhas notas ficaram. A matéria-prima da química se esgotou, os acontecimentos se esvaíram, as notas foram apagadas.

Encontrei elas no lixo do Evernote, agora de pouco.

Antes que você esqueça: tal não quer. Insistir em tal é insistir em nada. Não importa o que você pense, o que você acha, o que seu otimismo ou seja lá o que for te force a pensar. Tal não quer. Você já insistiu uma vez, é o suficiente. Não insista de novo. Tal é um problema a partir do momento em que você decide insistir, mais uma vez. Não insista.

[…]

Acabou. De qualquer jeito, acabou.

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