Serviço Militar: Campo

Soldados do efetivo variável da EsPCEx realizam Exercício de Longa Duração

Soldados do efetivo variável da EsPCEx realizam Exercício de Longa Duração (ELD) referente ao período da Instrução Individual Básica (IIB) 2014.

Camuflagem, Comunicações, Marchas a Pé, Fortificações, Higiene e Primeiros Socorros, Marchas e Estacionamentos, Observação e Orientação, Técnicas Especiais e Utilização do Terreno foram instruções desenvolvidas na atividade.

Foram 180 soldados do Efetivo Variável e 13 Cabos Músicos do Estágio Básico para Cabos Temporários. A atividade começou no dia 13 de maio, com data de término em 17 do mesmo mês. O Exercício foi realizado na antiga Coudelaria de Campinas.

O objetivo do campo era colocar em prática o conteúdo transmitido e porcamente estudado das instruções do internato, um mês após seu fim, conquistando a boina verde-oliva. Preparações do local foram iniciadas uma semana antes, com os próprios instruendos montando as estações de conteúdo. Orientações sobre a produção dos diversos kits (higiene pessoal, manutenção de coturno, etc.), necessários para a simulação de guerra, vieram de diversas fontes, com muitas divergências entre elas.

Leve uma farda limpa, um coturno limpo, não, dois coturnos limpos, junto com uma agulha e linha, tão fundamental quanto uma lanterna. Coloquem a farda dentro de sacos impermeáveis e as fechem com ligas de borracha. Coloquem uma liga de borracha no cantil, para que ele não balance. Não comprem os kits prontos. Camuflagem, comprem camuflagem.

Estúpido ritual de iniciação: reunião de contingente para os instrutores analisarem e eventualmente chutarem os kits dos instruendos para a escuridão da noite. Os chutes de nosso ano foram mitigados por um superior consciente presente, furando o ego inflado de alguns outros superiores menores. Liberados para dormir, para terminar de arrumar a mochila, para partir no dia seguinte.

Os superiores estavam felizes.

A mochila começava a pesar, a ponto de haver uma técnica para sua colocação, que envolviam movimentos de braços raramente reproduzíveis. No ônibus da ida, alguns quilos de mochilas eram atraídas pela massa relativamente desprezível de meu pé, onde o sangue começava desbravar caminhos desconhecidos para garantir a circulação completa. Fuzis! Muitos fuzis, todos com a numeração do responsável estampados em seu corpo.

Num gramado, montamos nossas barracas, onde tentaríamos dormir. Em frente, um local onde faríamos nossas refeições e prestaríamos nosso respeito à bandeira nacional. Nos caminhos, correríamos vibrando canções, tropeçando em pedras, cegados pela terra levantada por nossas próprias cavalgadas primitivas, cansados, sujos, humilhado, desiludido.

O cantil permanecia dentro de uma estrutura de metal, usada como caneco para líquidos diferentes de água. A limpeza do meu era duvidosa, devido ao meu receio de gastar água dentro da indefinição de quando encontraria um saco líster abastecido com água potável pela subtenência. A hidratação era uma preocupação recorrente dos superiores, que entre um grito desnecessário e outro, ordenavam uma golada.

Três bolsos pequenos na frente, do mesmo tamanho, com a ordem de colocar a marmita (um recipiente de ferro) no do meio, para “fácil retirada”. O problema: o espaço que o bolso alocava era pequeno demais para a molde arredondado do utensílio. Demoravam cerca de cinco segundos para retirar a marmita do tal bolso, desprezando quinze segundos anteriores na conta, utilizados para posicionar a mochila obesa em frente. Para guardar a marmita naquele espaço… Minutos, valiosos minutos e críticas dos superiores em volta.

A fila das refeições consistia em um instruendo cantando canções, enquanto os colegas o acompanhavam pulando, com mochila, fuzil e marmita amontoados pelos encaixes possíveis e impossíveis do corpo humano. Minha baixa empolgação chamou a atenção de um superior, que ordenou que voltasse para o fim da fila. Quase todos comendo, prestes de ser minha vez de pegar arroz, feijão, frango, macarrão e Chokito, tal superior delimitou com o braço uma linha na altura de meu peito como o mínimo que meu joelho, em meus pulos, deveriam alcançar. Alcancei, mas não parecia o suficiente. Pelo colarinho, energicamente, o empecilho de minha fome exclamou:

Você não merece a boina, 425!

Sim, isso, você entendeu! Não mereço fazer parte de seu grupo, me tire daqui!

Não, senhor, não mereço!

Todos os encontros com esse superior a partir dali, durante o campo, foram mais leves e militarmente minimizados. Para ele, minha duradoura recusa do ambiente era traduzido em mera baixa autoestima, como se a luta orgulhosa que ele teve por um chapéu verde fosse um sentimento que todos compartilhassem. Porém, me extasiei com a reação. Parecia um tipo de enganação, ou uma prova concreta de que o superior não é 100% correto em suas interpretações e ordens. Me senti no controle, por um momento.

Até o coelho.

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