Por que temos pensamentos intrusivos?

por Beatriz Zolin em Drauzio
Comentado por Susane Londero e José Cavalcante
Tempo de leitura: 6 minutos

#paratodasverem: um homem de camisa de botões azul-acinzentada, olhos e cabelos castanhos lisos, com uma expressão pensativa no rosto, a testa enrrugada e olhando para cima.

No texto, você lerá que:

  • Pensamento intrusivo é toda ideia, palavra ou imagem mental que aparece de modo espontâneo e indesejado.
  • Esse tipo de pensamento é normal. Pode acontecer com qualquer pessoa em qualquer momento.
  • Quando eles são muito intensos, repetitivos e surgem acompanhados de outros sintomas é importante buscar orientação profissional.

Sabe aqueles pensamentos intrusivos e terríveis que você não sabe de onde vêm e logo tenta afastar da mente? Eles costumam ser mais inofensivos do que você imagina.

Já aconteceu de você estar na sacada de um prédio e se imaginar jogando o celular lá de cima? Ou ver um animal fofinho na rua e, segundos depois, se pegar pensando nele sofrendo coisas horríveis? Ou ainda criar imagens sexuais na mente nos momentos mais inapropriados? Calma, não tem nada de errado com você. Esse é o fenômeno dos pensamentos intrusivos.

O que são pensamentos intrusivos?

“O pensamento intrusivo é toda ideia, palavra ou imagem mental que aparece de modo espontâneo e indesejado. São coisas que causam uma enorme estranheza, geralmente não correspondem aos valores da pessoa e exigem um enorme esforço para afastar da mente”, explica o dr. Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).

Eles geralmente apresentam uma natureza bizarra — sexual, agressiva, mórbida, escatológica, ilegal, etc. — e que nada tem a ver com a personalidade daquela pessoa. É por isso que muitos acham que os pensamentos intrusivos podem significar uma falha de caráter, um mau pressentimento ou a possibilidade de que a pessoa seja controlada pela mente. Mas, na prática, não é bem assim.

Comentário de José e Susane: pela própria natureza do funcionamento cerebral, estamos produzindo pensamentos todo o tempo. Mesmo que não apresentem uma natureza bizarra, alguns pensamentos intrusivos podem ser “grudentos” e não sair da cabeça, por exemplo, ruminações sobre algo desagradável que aconteceu no passado ou preocupações sobre o futuro.

Os pensamentos intrusivos podem comandar as ações?

“Esse tipo de pensamento é normal. Pode acontecer com qualquer pessoa em qualquer momento. Você lembra e daqui a pouco passa”, tranquiliza o dr. Scocca.

Basicamente, é apenas o cérebro provocando pensamentos inúteis ou de alerta. Por exemplo, ao passar por uma ponte e se ver caindo lá embaixo, você ativa um sistema de proteção que o deixa mais atento. Basta tomar cuidado e ignorar, que o pensamento logo se dissipa.

No entanto, em algumas pessoas, os pensamentos intrusivos se instalam. Com medo de que eles tomem conta de suas ações, as vítimas se isolam ou direcionam a agressão imaginada para si mesma. Nesses casos, é preciso procurar ajuda médica.

“Quando eles são muito intensos, repetitivos e surgem acompanhados de outros sintomas, podem estar associados a um quadro psiquiátrico que exija tratamento, como os transtornos de ansiedade, depressão e TOC”, destaca o psiquiatra.

Comentário de José e Susane: embora a capacidade humana de pensar seja uma grande vantagem evolutiva, também tem seus problemas. Por exemplo, podemos ficar muito tempo em nosso mundo mental, ruminando ou nos preocupando, o que é desgastante e está associado a problemas psicológicos. Quando estamos “fusionados” ao nosso mundo mental, ficamos pouco sensíveis ao contexto e ao que se passa ao nosso redor, o que pode impedir uma resposa eficaz.

Pensamentos intrusivos e ansiedade

“O pensamento intrusivo em si não define um transtorno. Mas, de maneira geral, eles estão relacionados a um aumento da ansiedade”, explica o dr. Scocca.

Naturalmente, o ser humano é capaz de imaginar situações através da criatividade e da racionalidade a fim de prever o perigo e fugir dele. Em níveis normais, portanto, a ansiedade é uma ferramenta de proteção.

Mas no caso da ansiedade patológica, que pode vir a gerar esses pensamentos intrusivos, o medo é constante e inespecífico. Você já entendeu que deve ter cuidado ao atravessar a ponte, mas a imagem de uma possível tragédia continua no seu imaginário.

“E por que isso acontece? Existem teorias que relacionam o pensamento intrusivo a uma experiência ruim do passado, outras que dizem o contrário. Mas a hipótese mais aceita até o momento é a da tendência genética. Existem genes que determinam que algumas pessoas estão mais sujeitas ao aumento da ansiedade, de forma que os pensamentos intrusivos também se desenvolvam”, detalha o dr. Scocca.

É por isso que esse fenômeno aparece nos mais diversos transtornos que envolvem a ansiedade, como o transtorno da ansiedade generalizada, do estresse pós-traumático, obsessivo compulsivo, depressão, entre outros.

Comentário de José e Susane: a ansiedade, assim como outras condições mentais, estão relacionadas com a história de vida da pessoa e a sociedade em que vivemos. Uma pessoa que sofreu com bullying na escola, por exemplo, pode desenvolver uma ansiedade ligada ao medo de outras pessoas, de ser criticada ou assediada por outros, mesmo que esteja em um ambiente seguro. Com isso, é possível que experimente pensamentos intrusivos de desconfiança ou auto-depreciativos. Uma sociedade acelerada e desatenta também promove uma vulnerabilidade aos automatismos mentais, como os pensamentos intrusivos.

Como se livrar desses pensamentos?

Como os pensamentos intrusivos são sintomas de outros quadros psiquiátricos, o tratamento varia de acordo com o diagnóstico.

“Cada um deles tem suas características. Mas, de maneira geral, temos que intervir na tentativa de diminuir a ansiedade através de grupos de medicamentos específicos e terapia, principalmente a cognitivo comportamental e as analíticas”, afirma o especialista.

Durante as sessões, o paciente trabalha a psicoeducação com o objetivo de compreender que o cérebro pode produzir esse tipo de pensamento de forma muito real, mas isso não significa que ele irá levar a uma ação prática ou que represente uma falha de caráter.

Comentário de José e Susane: as terapias contextuais e cognitivo-comportamentais mais recentes abordam pensamentos intrusivos e outros conteúdos mentais “grudentos” com os quais podemos ficar “fusionados” de um modo diferente. Como tentar suprimir ou não pensar em conteúdos mentais paradoxalmente acaba trazendo o conteúdo pra mente - não pense em um elefante cor-de-rosa! -, a alternativa seria acolher tais conteúdos, observá-los como o que eles são, apenas conteúdos mentais. Como hóspedes em um hotel, os pensamentos nos habitam, mas não precisam decidir como gerenciar o hotel. Somos aqueles que pensam, não os pensamentos.


Fonte:

https://drauziovarella.uol.com.br/psiquiatria/por-que-temos-pensamentos-intrusivos/

Mais sobre:
E o que fazer com os pensamentos? (Portal Comporte-se)


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