Estudo de coorte de nascimento revela a carga sobre a saúde mental do trauma na infância

Por Universidade do Colorado em Boulder.
Traduzido e adaptado por José Cavalcante e Susane Londero.
Tempo de leitura: 4 minutos.


#pratodosverem: uma imagem a preto-e-branco de três crianças correndo em um campo com capim e árvores ao longe. Elas estão de costas, correndo em direção às árvores mais distantes, duas com roupas pretas e uma com uma camisa branca.

Nesse texto você lerá sobre:

  • Os achados de um estudo sobre crianças expostas a traumas na infância.

  • O trauma vivido na infância afeta consideravelmente a saúde mental e está ligado a taxas mais altas de transtornos mentais na infância.

  • Mais de um terço das crianças da pesquisa foi exposta a um evento traumático até os 11 anos de idade.

  • A educação dos pais é um meio de prevenir a exposição ao trauma.

Os achados de um grande estudo de coorte de nascimentos no Brasil sugerem que crianças expostas a eventos ameaçadores à vida ou horríveis, como testemunhar a morte de alguém ou sofrer ferimentos graves ou violência sexual, têm quase duas vezes mais chances de desenvolver transtornos psiquiátricos.

Uma equipe de psicólogos do Reino Unido, Brasil e África do Sul analisou dados de crianças testadas como parte do Estudo de Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004. Este estudo de coorte, sediado na cidade de Pelotas, no sul do Brasil, acompanhou crianças desde o nascimento até os 11 anos de idade para rastrear seus resultados de saúde e vida. Os resultados foram publicados no The Lancet Psychiatry.

Os dados de mais de 4.000 crianças foram analisados ​​para este estudo para medir a prevalência de transtornos de ansiedade e humor, TDAH e transtornos de hiperatividade e transtornos de conduta e oposição, e para avaliar a exposição das crianças ao trauma nas idades de 6 e 11 anos. Os eventos traumáticos incluíram aqueles vivenciados diretamente pelas crianças, ou aqueles testemunhados como acontecendo com outras pessoas, incluindo entes queridos.

Os resultados mostram que a exposição ao trauma aos 6 anos de idade foi associada a um maior risco de transtornos de ansiedade e transtornos psiquiátricos em geral. Aos 11 anos, a exposição ao trauma foi associada a uma maior probabilidade de desenvolver transtornos psiquiátricos em geral e quatro classes específicas de transtornos: ansiedade, humor, TDAH/hiperatividade e transtornos de conduta/oposição. Essas condições foram entre 50% e 100% mais propensas a se desenvolver no grupo exposto ao trauma do que nas crianças não expostas.

Isso mostra que o trauma na infância está relacionado a uma carga de saúde mental considerável e de longo prazo em crianças que vivem no Brasil. Aos 11 anos, mais de um terço das crianças (34%) da coorte foram expostas a algum tipo de trauma. Os pesquisadores dizem que esses resultados têm amplas implicações para as pessoas que crescem no Brasil e em outros países de baixa e média renda.

O pesquisador principal, Dr. Andreas Bauer da Universidade Federal de Pelotas no Brasil (anteriormente no Departamento de Psicologia da Universidade de Bath) explicou: "Nosso estudo destaca quão comum eram traumas de infância para crianças nascidas em Pelotas em 2004. Aos 11 anos, mais de um terço de todas as crianças vivenciaram algum tipo de evento traumático.

"Nosso estudo mostra que esses eventos estão associados a uma ampla gama de problemas de saúde mental. Alguns deles já são observados em crianças muito pequenas com apenas seis anos. Isso leva a um fardo de saúde mental de longo prazo e a atenção das políticas agora precisa se concentrar urgentemente esforços para reduzir o trauma infantil e abordar suas consequências".

No estudo, os autores argumentam que as intervenções precoces particularmente direcionadas ao trauma interpessoal, incluindo violência e maus-tratos infantis, podem reduzir a exposição ao trauma infantil e, portanto, a carga de saúde mental das crianças.

O coautor do estudo, Dr. Graeme Fairchild, do Departamento de Psicologia da Universidade de Bath, acrescentou: "Este estudo mostra que as taxas de exposição ao trauma entre crianças que vivem no Brasil são muito mais altas do que entre crianças que vivem no Reino Unido. Este estudo também é um dos primeiros a mostrar que o trauma está ligado a taxas mais altas de uma série de problemas de saúde mental na infância.

"Estudos anteriores analisando o impacto do trauma infantil na saúde mental se concentraram principalmente em adultos, enquanto pudemos mostrar que as crianças já eram afetadas negativamente aos seis anos. Nossas descobertas sugerem que, ao prevenir a exposição ao trauma por meio da educação dos pais e regulamentação legal, muitas crianças não iriam desenvolver problemas de saúde mental."

Se você trabalha no TRE-RS e viveu um trauma de infância, saiba que a psicoterapia pode minimizar seus efeitos. Caso você queira saber mais sobre e conversar a respeito, entre em contato conosco. Podemos ajudar na busca das melhores opções de acordo com suas necessidades.


Fonte: https://medicalxpress.com/news/2022-11-birth-cohort-reveals-mental-health.html

Mais sobre traumas na infância:

Traumas da infância podem estar ligados à ansiedade em adultos (Jornal da USP): https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/traumas-da-infancia-podem-estar-ligados-a-ansiedade-em-adultos/

Experiências traumáticas na infância podem alterar estrutura do cérebro (Veja): https://veja.abril.com.br/saude/experiencias-traumaticas-na-infancia-podem-alterar-estrutura-do-cerebro/


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