Os riscos das mídias sociais para crianças e adolescentes

Por American Psychological Association - APA.
Traduzido e adaptado por José Cavalcante e Susane Londero.
Tempo de leitura: 5 minutos.


#paratodasverem: uma garotinha de camisa rosa, trança e tiara nos cabelos segura um mouse, enquanto olha para uma tela de computador. Sobre uma mesa de vidro, à sua frente, há um teclado de computador e uma carteira. Ela parece concentrada no que está fazendo.

Nesse texto, você lerá sobre:

  • Os períodos de maior risco de exposição às mídias sociais para crianças e adolescentes.

  • A busca de recompensas sociais nas mídias sociais.

  • Os riscos de passar tempo em demasia nas mídias sociais.

  • Os riscos de acessar conteúdos danosos ou perigosos.

  • Acesso ao guia #SemAbusos #MaisSaúde da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Quando se trata dos riscos ou benefícios potenciais das mídias sociais para crianças, não devemos olhar para as mídias sociais como um todo, mas sim focar em características e comportamentos específicos que são construídos através de plataformas sociais e para os quais as crianças são particularmente vulneráveis, de acordo com o diretor de ciências da American Psychological Association (APA).

“Os neurocientistas do desenvolvimento revelaram que existem dois períodos altamente críticos para o desenvolvimento neural adaptativo”, disse Prinstein em depoimento por escrito. “Um deles é o primeiro ano de vida. A segunda começa no início da puberdade e dura até o início da idade adulta (ou seja, aproximadamente dos 10 aos 25 anos). Este último período é altamente relevante, pois é quando um grande número de jovens tem acesso relativamente irrestrito a dispositivos e uso irrestrito ou não supervisionado de mídias sociais e outras plataformas online”.

Na puberdade, disse ele, as crianças começam a desejar recompensas sociais, como visibilidade, atenção e feedback positivo dos colegas. “Em contraste, as regiões [do cérebro] envolvidas em nossa capacidade de inibir nosso comportamento e resistir às tentações (ou seja, o córtex pré-frontal) não se desenvolvem totalmente até o início da idade adulta (ou seja, aproximadamente 10 a 15 anos depois)”, disse ele. “Em outras palavras, quando se trata dos desejos dos jovens por atenção social, eles são 'todos no acelerador sem freios'.”

Prinstein explicou que uma implicação dessas descobertas é que as crianças podem não ter a capacidade de se conter para não usar demais as mídias sociais. Pesquisas recentes mostram que mais de 50% dos adolescentes relatam pelo menos um sintoma de dependência clínica nas mídias sociais.

Ele também delineou várias áreas adicionais de preocupação que surgiram da pesquisa científica. Sites de mídia social existem ostensivamente para promover conexões sociais, disse ele. Mas muitos jovens usam os sites para se comparar com os outros, buscando “curtidas” e outras métricas em vez de relacionamentos saudáveis ​​e bem-sucedidos.

“Em outras palavras, a mídia social oferece ‘calorias vazias da interação social’ que parecem ajudar a saciar nossas necessidades biológicas e psicológicas, mas não contêm nenhum dos ingredientes saudáveis ​​necessários para colher os benefícios”, disse ele.

A mídia social também aumenta o risco de influência negativa entre adolescentes, bem como de estresse e uso viciante de mídia social, acrescentou ele, citando pesquisas que mostram que muitos jovens usam a mídia social mais do que pretendem e que têm dificuldade em parar de usá-la.

“A vulnerabilidade biológica dos jovens à tecnologia e às mídias sociais, e o consequente uso frequente dessas plataformas, também tem o potencial de alterar o desenvolvimento neural dos jovens, uma vez que nossos cérebros se desenvolvem em resposta ao ambiente em que vivemos”, disse ele. “Estudos recentes revelaram que o uso de tecnologia e mídia social está associado a mudanças no desenvolvimento estrutural do cérebro (ou seja, mudança no tamanho e nas características físicas do cérebro).”

Prinstein também apontou para os riscos associados aos jovens que acessam sites de mídia social que exaltam a alimentação desordenada, o corte e outros comportamentos nocivos.

“Além disso, em alguns casos, esse conteúdo não é removido nem são incluídos avisos de gatilho para proteger jovens vulneráveis ​​dos efeitos que a exposição a esse conteúdo pode ter em seu próprio comportamento”, disse ele. “Isso ressalta a necessidade de plataformas para implantar ferramentas para filtrar conteúdo, exibir avisos e criar estruturas de relatórios para mitigar esses danos.”

Outra área de preocupação é o que os jovens estão perdendo ao passar tantas horas nas redes sociais – especialmente o sono, que eles precisam para um desenvolvimento saudável.

“Pesquisas sugerem que sono insuficiente está associado a baixo desempenho escolar, dificuldades de atenção, regulação do estresse e aumento do risco de acidentes automobilísticos”, disse ele. “Pesquisas neurocientíficas demonstraram que horários de sono inconsistentes estão associados a mudanças no desenvolvimento estrutural do cérebro na adolescência. Em outras palavras, a preocupação dos jovens com a tecnologia e as mídias sociais pode afetar de forma deletéria o tamanho de seus cérebros.”

Mas nem tudo são más notícias. Algumas pesquisas demonstram que o uso da mídia social está relacionado a resultados positivos que podem beneficiar a saúde mental dos jovens, de acordo com Prinstein.

“Talvez mais notavelmente, a pesquisa psicológica sugere que os jovens formam e mantêm amizades online. Esses relacionamentos geralmente oferecem oportunidades de interagir com um grupo de colegas mais diversificado do que offline, e os relacionamentos são próximos e significativos e fornecem um apoio importante aos jovens em momentos de estresse”, disse ele. Isso pode ser especialmente importante para jovens com identidades marginalizadas, incluindo minorias raciais, étnicas, sexuais e de gênero.

Para atualizar pediatras, pais e educadores sobre a influência das tecnologias de informação e comunicação (TICs), redes sociais e internet nas questões de saúde e de comportamento das crianças e adolescentes, a Sociedade Brasileira de Pediatria publicou em 2021 o Guia Prático de Atualização #SemAbusos #MaisSaúde. O guia destaca importantes recomendações aos médicos sobre como avaliar na história e no exame, durante a consulta, casos suspeitos de violência ou abusos offline ou online; além de orientar os pais sobre alternativas seguras, educativas e saudáveis de atividades para crianças e adolescentes.


Fontes:

APA chief scientist outlines potential harms, benefits of social media for kids (APA, 2023).

Exposição excessiva de crianças em redes sociais pode causar danos (Agência Pública, 2021).

Mais sobre:

Guia Prático de Atualização #SemAbusos @MaisSaúde (SBP, 2021).


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