Alguém contou que está se autolesionando. E agora?

por Penelope Hasking and Stephen P. Lewis, via MedicalXpress
Traduzido e adaptado por Susane Londero e José Cavalcante
Tempo de leitura: 6 minutos

#paratodasverem: a mão de uma pessoa vestindo um casaco cinzento e preto, se estende em diagonal para cima, entraberta, quase como se pedisse ajuda, sobre um fundo azul.

No texto, você lerá:

• Existem muito motivos diferentes para as pessoas se autolesionarem.
• A pessoa que se autolesiona pode compartilhar o que fez com quem confia.
• O que não fazer, o que fazer, o que dizer e o que esperar.

Para muitas pessoas, a automutilação pode ser um comportamento difícil de entender. Também traz muito estigma.

Por isso, é difícil falar sobre, pois as pessoas que se automutilam muitas vezes antecipam respostas negativas e julgamento.

Mas se alguém lhe disser que está se machucando, a maneira como você responde é fundamental para a saúde e o bem-estar da pessoa.

O que é automutilação? Por que as pessoas fazem isso?

O termo automutilação pode significar o dano intencional de alguém ao seu corpo como forma de lidar com uma situação ou uma tentativa de acabar com a vida. Mas consideramos que esses são comportamentos muito diferentes.

Então preferimos o termo ferimento autoinfligido ou autolesão para descrever a gama de comportamentos não suicidas que as pessoas usam principalmente para lidar com sentimentos difíceis (como angústia intensa ou ansiedade) e com pensamentos difíceis (por exemplo, autocríticos).

Ferimentos autoinfligidos são comuns. Um em cada seis adolescentes relatam ter se machucado em algum momento no passado.

Mas não há experiências iguais entre duas pessoas. E quem se machuca o faz por muitos motivos além de lidar com a situação. Isso inclui punir-se ou sentir algo quando se sente emocionalmente entorpecido.

Portanto, se alguém lhe disser que se autolesionou, evite presumir por que o fez.

Contar para alguém é um grande passo

Dado o estigma associado, muitas pessoas que se machucam não contam para ninguém. Quando contam, geralmente é para amigos ou familiares.

Quando contam para amigos ou familiares, é que valorizam a qualidade do relacionamento, falando para pessoas em quem confiam. Mas podem não estar à procura de ajuda concreta (por exemplo, apoio profissional). Em vez disso, eles estão procurando suporte social, compreensão e um espaço seguro para falar sobre suas experiências.

Já alguém com ferimentos autoinfligidos mais graves ou que também tenha pensamentos ou comportamentos suicidas, possivelmente fala sobre o que aconteceu como forma de aceder a apoio profissional ou médico.

O que não fazer

Quando alguém lhe disser que se machucou, você pode se preocupar com a segurança e o bem-estar dela. Você pode chatear-se porque alguém de quem você gosta parece estar passando por dificuldades. Você pode sentir que é demais e não saber como responder. Estas e outras reações são compreensíveis e esperadas.

Mas é importante não reagir exageradamente ou responder com emoções de alta intensidade. Isso pode diminuir a probabilidade da pessoa falar.

Também não é aconselhável fazer um grande número de perguntas (por exemplo, como o fizeram, quando o fizeram), pois isso pode parecer um interrogatório.

Outra reação comum é enfatizar a importância de interromper a autolesão. Embora isso geralmente aconteça porque nos preocupamos com a pessoa e desejamos que ela esteja segura, uma abordagem de resolução de problemas pode não ser o que as pessoas precisam. A pessoa que conta pode simplesmente querer uma oportunidade de compartilhar sua experiência.

Muitas pessoas têm sentimentos misturados sobre parar – querer parar de se machucar, mas também querer manter a estratégia de enfrentamento conhecida.

O que fazer

Se alguém revelar que se machucou, é importante responder de forma solidária, com compaixão e sem julgamento. É importante dar à pessoa espaço para compartilhar o que deseja com suas próprias palavras, ouvir ativamente e validar que essa provavelmente é uma conversa difícil para a pessoa.

Também é importante reconhecer que a pessoa pode compartilhar um pouco sobre sua experiência agora, mas pode ainda não estar pronta para falar sobre tudo. É fundamental ser paciente.

Dizer a alguém que você está lá para ouvir e apoiar pode ajudar muito, permitindo que a pessoa saiba que pode procurar você novamente se precisar e que você não está sendo apressado ou pressionado.

O que posso dizer?

Para apoiar alguém que revela que se autolesionou, recomendamos usar um tom baixo e compassivo que comunique que você está preocupado e está lá para ouvir sem julgamento.

Isso envolve reconhecer que a autolesão pode ser um tópico difícil de discutir. Você pode dizer:

“Eu reconheço que esta não é uma conversa fácil. No entanto, eu aprecio sua disposição para compartilhar e eu gostaria de entender como tem sido para você ultimamente.”

Parte disso também pode envolver uma “curiosidade respeitosa”. Isso envolve comunicar um interesse genuíno na experiência da pessoa. Você pode dizer:

“Eu sei que as pessoas se autolesionam por diferentes razões. Eu estou me perguntando se você pode me ajudar a entender o que a autolesão faz por você…”

Reconheça que a automutilação muitas vezes não é algo que alguém possa simplesmente impedir. Isso pode ajudar muito a fazer com que a pessoa não se sinta julgada e, portanto, mais propensa falar sobre o assunto. Você pode dizer:

"Posso compreender que se ferir tenha sido útil para você, o que tornaria muito difícil parar agora."

Finalmente, é importante cuidar de si mesmo. Apoiar alguém que se machuca pode cobrar seu preço. Certifique-se de observar como você está se sentindo. Não há problema em dizer que você precisa de uma pausa e encontrar algum tempo para cuidar de si mesmo.

O que posso esperar?

Se uma pessoa revelar que se machucou, reserve um tempo para ouvir o que ela está dizendo e que tipo de apoio ela precisa agora.

Embora ouvir que a pessoa se machuca possa ser um desafio, você pode descobrir que não apenas pode apoiar, mas também pode aproximar-se e fortalecer o relacionamento.

Pessoas que se autolesionam e aqueles que as apoiam podem encontrar mais informações nos seguintes recursos:

• Autolesão - Guia Prático de Ajuda: cartilha da Vita Alere para ajudar nos cuidados de casos de autolesão e também informar e orientar pais, mães e educadores sobre esses comportamentos e suas possibilidades de cuidado.
• Como ajudar jovens que sofrem com autolesão? E-book gratuito ensina a lidar com o comportamento: Um livro digital gratuito que traz dicas e recomendações para os pais de adolescentes que se autolesionam, escrito por pesquisadoras da USP.
• Bem Estar #158: Autolesão: o que é, como identificar e tratar: Um podcast que aborda o tema da autolesão, seus sinais, causas e formas de prevenção, com a participação de um psiquiatra especialista no assunto.

Fonte:
Someone has told you they're self-harming. Now what? (MedicalXpress)
https://medicalxpress.com/news/2023-11-told-theyre-self-harming.html