Por que meus filhos se comportam bem com outras pessoas e mal comigo?

por Trevor Mazzucchelli, The Conversation.
Traduzido, adaptado e comentado por Susane Londero e José Cavalcante.
Tempo de leitura: 5 minutos

#paratodasverem: uma menina de roupas vermelhas e cabelos longos pretos brinca com um punhado de areia nas mãos. Ela está concentrada e acocorada. Há alguns arbustos ao redor.

No texto, você lerá que:

  • Desde o início, o comportamento das crianças produz resultados ou consequências. Elas aprendem que seu comportamento pode influenciar as ações dos outros.

  • Às vezes, as reações dos pais inadvertidamente recompensam o mau comportamento. Por exemplo, quando as crianças não obedecem, podem receber atenção extra dos pais.

  • As crianças muitas vezes se comportam melhor na escola porque os professores têm sistemas para lidar com comportamentos bem estabelecidos. Em casa, a familiaridade e a dinâmica familiar podem afetar o comportamento.

Os pais podem estar familiarizados com este cenário: uma criança é bem comportada na escola e educada com os professores, mas tem um colapso em casa à tarde.

Ou dizem por favor e obrigado na casa de um amigo, mas são rudes com a família. Eles seguem as regras se visitarem um vizinho, mas precisam ser constantemente lembrados de não bater as portas e invadir a despensa de casa.

Por que isto é assim? E há algo que você possa fazer sobre isso?

As crianças aprendem cedo que seu comportamento é importante

Mesmo crianças bem comportadas se comportam mal de vez em quando.

Quando crianças pequenas ficam cansadas, como depois de uma brincadeira ou de um longo dia na creche ou na escola, elas podem ficar irritadas e perturbadoras. As crianças também são naturalmente curiosas e às vezes podem se comportar mal apenas para ver o que acontece.

No entanto, algumas crianças parecem comportar-se consistentemente pior em casa do que em outros ambientes. Para entender esse fenômeno, é necessário entender por que as crianças se comportam dessa maneira.

Desde o início, o comportamento da criança produz resultados ou consequências. Por exemplo, os bebês logo aprendem que chorar é uma forma muito eficaz de sinalizar que estão em perigo. Os pais aprendem rapidamente a trocar uma fralda molhada ou a alimentar o bebê quando ele chora. Um sorriso geralmente resulta em um adulto sorrindo de volta, arrulhando ou abraçando o bebê.

Assim, as crianças percebem rapidamente que o seu comportamento pode ser uma forma eficaz de controlar as ações dos outros.

A recompensa pelo mau comportamento

O comportamento das crianças, seja desejável ou indesejável, é influenciado pelas consequências produzidas.

Às vezes, as reações de pais ou irmãos podem acidentalmente recompensar o mau comportamento, e as crianças aprendem que o comportamento indesejável tem uma recompensa.

Por exemplo, as crianças podem aprender que, quando não fazem o que lhes mandam, recebem atenção extra dos pais. Essa atenção pode consistir em mandar, discutir, argumentar, importunar ou repetir instruções continuamente. Pode não ser visto como uma “recompensa” para os adultos, mas as crianças estão recebendo mais atenção da mãe ou do pai.

As crianças também podem aprender que quando choram e reclamam de um dispositivo eletrônico, é mais provável que o comprem.

Infelizmente, neste cenário, a criança é recompensada por chorar e os pais são recompensados ​​por lhes dar o iPad porque ele interrompe um ruído altamente irritante (pelo menos a curto prazo). Como tanto a criança como os pais são recompensados, é provável que esta interação ocorra novamente.

Comentário de José e Susane: em alguns casos, os pais sem querer reforçam birras cada vez mais intensas. Por exemplo, se no começo basta um pequeno choro para a criança ter o brinquedo, de uma segunda vez os pais podem tentar resistir mais e a criança irá chorar mais alto, embora no fim ela ganhe o brinquedo. Desse modo, vão sendo reforçados comportamentos de birra cada vez mais intensos e quando o choro já não funciona, a criança passa a se jogar no chão ou agredir o adulto. Então, quando vemos um comportamento de birra intenso, por trás dele há uma história de aprendizagem longa e progressiva.

Por que as crianças são melhores na escola?

Quando as crianças estão com pessoas menos familiares, elas não sabem como os outros reagirão ou que comportamento resultará em recompensa. Nessas circunstâncias é comum que haja menos comportamentos indesejáveis, pelo menos temporariamente.

As crianças também podem comportar-se melhor na escola do que em casa porque os professores dispõem de um contexto que os ajuda. As crianças são mantidas ocupadas com uma variedade de atividades envolventes, as expectativas em relação ao comportamento das crianças são claras e a recompensa pelo comportamento desejável é confiável. Os professores têm boa prática em reconhecer e recompensar comportamentos desejáveis ​​por meio de atenção, elogios e, às vezes, sistemas de recompensa simbólica.

As crianças também tendem a imitar o comportamento de seus colegas, especialmente se eles virem obter resultados, como atenção do professor ou acesso a atividades valorizadas.

Como os pais podem ajudar os filhos a se comportarem melhor em casa?

A boa notícia é que se as crianças se comportarem bem num determinado ambiente, sabemos que são capazes de fazer o mesmo em casa.

Os pais podem valorizar crianças que precisam relaxar em casa e ao mesmo tempo esperar que sejam educados e sigam as regras. Ao fazer algumas pequenas mudanças, geralmente é possível ver um comportamento muito melhorado.

Aqui estão algumas coisas práticas que os pais podem fazer:

  • Estabeleça rotinas. Tenha uma rotina para quando seu filho chegar da escola ou de passeios. Isso pode incluir permitir que seu filho relaxe e descontraia, dando-lhe um lanche saudável e, em seguida, preparando-o para uma atividade envolvente. As rotinas facilitam a transição de todos de um ambiente para outro. É ainda melhor se a rotina incluir atividades – como colorir ou correr ao ar livre – que acalmam ou queimam energia.

  • Estabeleça regras domésticas simples. Tenha algumas regras simples que comuniquem claramente ao seu filho como você espera que ele se comporte. Por exemplo: “use sua voz interior” ou “mantenha os brinquedos no chão”.

  • Observe o bom comportamento. Deixe seu filho saber quando ele fez a coisa certa. Faça isso descrevendo o que o deixa satisfeito ("vocês dois estão compartilhando o brinquedo tão bem"). Isso aumentará a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente.

  • Passe algum tempo com seu filho regularmente. Isto é especialmente importante quando seu filho se aproxima de você em busca de ajuda ou atenção. Isso mostra que você está ao seu lado e que eles não precisam falar mais alto ou agir para conseguir a sua atenção. Passar tempo - apenas um ou dois minutos - muitas vezes ao longo do dia é uma forma poderosa de fortalecer o relacionamento com seu filho e prevenir comportamentos problemáticos.

  • Tenha expectativas realistas. A mudança é mais fácil se você se concentrar em um ou dois objetivos de cada vez. Além disso, ao se esforçar para melhorar o comportamento, espere contratempos ocasionais. Nenhum filho (ou pai) é perfeito!

Comentário de José e Susane: os pais podem frequentemente se sentir sobrecarregados ou desafiados com a criação dos filhos. Frente ao mau comportamento ou a emoções intensas da criança, como raiva ou tristeza, os pais podem ser fisgados por pensamentos de que falharam ou não são bons pais. É importante notar que emoções difíceis ou momentos de mau comportamento fazem parte da vida e são experiências fundamentais de aprendizado que também precisam ser vividas. E se um comportamento é inadequado em um contexto, pode não ser em outro. Por exemplo, vivenciar a frustração e chorar também são experiências legítimas para o desenvolvimento de limites, lidar com emoções desagradáveis e expressar-se. Uma reação raivosa de choro pode não ser adequada para tentar ganhar um sorvete quando está com os pais, mas pode ser adequada como um modo de tentar alertar adultos de que está sofrendo maus-tratos na escola ou de que um estranho está tentando levá-la.


Este artigo foi republicado de The conversation sob uma licença Creative Commons. Original em: https://theconversation.com/why-are-my-kids-good-around-other-people-and-then-badly-behaved-with-me-217279

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