O poder de abraçar a incerteza

Por Nicole Whiting, Psychology Today
Traduzido e adaptado por Susane Londero e José Cavalcante
Tempo de Leitura: 5 minutos

#pratodasverem: uma estrada asfaltada em meio a uma floresta de pinheiros nas montanhas, fazendo uma curva em S e sumindo por trás de um aclive.

No texto você lerá sobre:

  • Abraçar a incerteza dentro da “lacuna entre perguntas e respostas” pode desbloquear capacidades e oportunidades de crescimento.

  • Liberar o controle reduz o estresse e a ansiedade, aumentando a resiliência e a adaptabilidade com uma mentalidade construtiva.

  • O conforto com a incerteza estimula a criatividade e o pensamento divergente, levando a novas ideias e soluções.

No domínio da investigação psicológica, muita atenção tem sido colocada na “lacuna conhecimento-ação”, que separa o que sabemos do que fazemos. Contudo, outra área crítica ainda pouco explorada é a “lacuna entre perguntas e respostas”.

É nesta lacuna que residem a incerteza, o desconhecido e o incognoscível, marcando a distância entre as questões que colocamos e as respostas que procuramos. Incorpora o núcleo da curiosidade humana e o impulso para explorar, seja no crescimento pessoal, educação ou empreendimentos profissionais. Isto não é apenas um vazio; é um espaço repleto de possibilidades, onde a nossa curiosidade nos impulsiona a desafiar o convencional e ampliar os limites de nossas capacidades.

Aqui, adotar uma mentalidade de “não sei” evolui de uma potencial crítica para uma postura poderosa. A incerteza e o desconhecido são normalmente vistos com apreensão, mas são os próprios elementos que catalisam a aprendizagem e a inovação.

Abraçar esta lacuna permite-nos transformar a incerteza num catalisador para insights e avanços significativos. Isso nos leva a reconhecer que não ter todas as respostas não é um ponto final, mas um ponto de partida para a descoberta. Esta perspetiva é essencial para promover o crescimento contínuo, impulsionando-nos a procurar constantemente novos conhecimentos e soluções inovadoras, libertando assim todo o nosso potencial e expandindo o âmbito do que é possível.

A Ilusão do controle

O conceito de controle é uma pedra angular da pesquisa psicológica, frequentemente associado ao aumento de estresse e ansiedade quando esse controle é percebido como perdido. No entanto, paradoxalmente, é abandonando este mesmo controle que podemos diminuir o stress, melhorar a saúde mental e, em última análise, encontrar um empoderamento mais profundo.

O trabalho seminal da pesquisadora Carol S. Dweck ilumina como enfrentar as incertezas com um mentalidade de crescimento– abraçar os desafios que se apresentam – pode melhorar significativamente a nossa resiliência e adaptabilidade, oferecendo uma compreensão mais sutil do papel do controle em nossas vidas (Blackwell, L.S., Trzesniewski, K.H., Dweck, C.S. 2007).

A incerteza, em vez de uma barreira, pode ser o solo fértil do qual brotam o pensamento e a ação criativos. Convida-nos para um espaço livre das restrições de resultados predeterminados, onde novas ideias podem criar raízes. A pesquisa de Mueller, Melwani e Gonçalo (2011) revela que o conforto com a incerteza alimenta o pensamento divergente – uma pedra angular da criatividade—permitindo o nascimento de soluções e ideias inovadoras.

A curiosidade é um impulso inato que nos leva à exploração e descoberta. Kashdan e Silvia (2009) argumentam que a curiosidade transforma a ansiedade do desconhecido em uma excitação exploratória positiva, promovendo bem-estar e comportamentos adaptativos. Esta mudança é crucial para navegar na imprevisibilidade da vida com graça e mente aberta.

Passos práticos para navegar na incerteza

Ultrapassar o véu da certeza não nos mergulha no caos, mas expande o horizonte de possibilidades. As percepções de Barry Schwartz sobre o paradoxo da escolha destacam a faca de dois gumes da abundância – o excesso de escolhas pode ser esmagador, embora a liberdade de escolha também sustente a nossa autonomia e satisfação.

Abraçar a incerteza abre uma paisagem rica em caminhos potenciais, cada um convidando à exploração e ao crescimento pessoal (Schwartz, 2004). Tente o seguinte para começar:

  1. Cultive a curiosidade. A curiosidade permite um envolvimento exploratório com o mundo, convidando a uma rica tapeçaria de experiências e aprendizagem. Jackson (2023) descreve a incerteza como “sabedoria em movimento”, enfatizando que o conhecimento não é estático, mas evoluiu através da aceitação do desconhecido. Ao fomentar a curiosidade, os indivíduos podem navegar pela incerteza com uma postura fortalecida, vendo cada momento de desconhecimento como uma oportunidade de crescimento.

  2. Pratique a paciência. A pressa em direção à certeza pode ofuscar o potencial escondido em momentos incertos. O'Donohue (2018) capta lindamente esse sentimento, afirmando que “as possibilidades são sempre mais interessantes que os fatos”. Esta perspectiva convida a uma abordagem paciente das incertezas da vida, reconhecendo que a viagem, com a sua miríade de caminhos e resultados potenciais, é tão significativa quanto o destino.

  3. Apoie-se. Desenvolver um relacionamento resiliente com o fracasso e a incerteza é essencial para o crescimento pessoal. Isto implica apoiar-se através de tentativas e erros, reconhecendo que, embora os resultados nem sempre sejam previsíveis, a capacidade de navegar e adaptar-se a eles está sob o nosso controle. Este auto-sustento promove uma resiliência inestimável face às incertezas inevitáveis ​​da vida.

Abraçar a incerteza é mais do que um ideal filosófico; é uma abordagem prática para viver uma vida plena e significativa. Ao reconhecer a ilusão de controle, nutrir nossos instintos criativos e acolher a curiosidade, podemos transformar o desconhecido em uma fonte de crescimento.

A “lacuna entre perguntas e respostas” torna-se então não um abismo para o medo, mas um espaço de exploração, onde as sementes do nosso potencial aguardam o alimento da nossa coragem e abertura.


Referências

The Power of Embracing Uncertainty, por Nicole Whiting, MA, para a Psychology Today. Disponível em: https://www.psychologytoday.com/us/blog/beyond-limits/202404/the-power-of-embracing-uncertainty

Blackwell, L. S., Trzesniewski, K. H., & Dweck, C. S. (2007). Implicit Theories of Intelligence Predict Achievement Across an Adolescent Transition: A Longitudinal Study and an Intervention. Child Development, 78(1), 246–263.

Mueller, J. S., Melwani, S., & Goncalo, J. A. (2011). The Bias Against Creativity: Why People Desire But Reject Creative Ideas. Psychological Science, 23(1), 13–17. https://doi.org/10.1177/0956797611421018

Kashdan, T. B., & Silvia, P. J. (2009). Curiosity and Interest: The Benefits of Thriving on Novelty and Challenge. The Oxford Handbook of Positive Psychology, 366–374. https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780195187243.013.0034


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