Navegando nas ondas da dor
February 7, 2025•1,546 words
Por Jaimie Lusk Psy.D, em Psychology Today
Traduzido e adaptado por Susane Londero e José Cavalcante
Tempo de Leitura: 8 minutos
#pratodasverem: uma estátua de pedra de uma pessoa encolhida e sentada, segurando as pernas com as mãos, a cabeça escondida entre os joelhos. A base da estátua é retangular e igualmente de pedra e o fundo é uma folhagem quase sem cor, também acinzentada.
No texto você lerá que:
Não existe uma maneira “normal” de sofrer; qualquer reação à perda é válida.
Deixar ser significa permitir-se sentir suas emoções sem julgamento.
Deixar ir envolve liberar-se de crenças, comportamentos e apegos limitantes.
Deixar entrar requer abertura para novas experiências, conexões e crescimento.
Quer seja o fim de um relacionamento romântico, a morte de um ente querido ou a perda de um sonho acalentado, pesar é uma resposta natural ao vazio que se instala. Nesta postagem, exploraremos o conceito de luto através das lentes de "Let be, Let go, Let in" (Hanson, 2013), uma estrutura que nos incentiva a abraçar nossas emoções, liberar o que não nos serve mais e nos abrirmos para novas possibilidades. Essa estrutura não pretende ser linear – é mais como uma receita com três ingredientes – você precisa continuar “provando o molho” para ver qual deles precisa adicionar no momento.
Lidando com a perda, parte 1: deixe ser
Não existe uma maneira “normal” de sofrer. Apesar da popularidade das teorias dos estágios, como os cinco estágios do luto de Elisabeth Kubler-Ross (1969), a pesquisa na área mostrou que qualquer reação à perda é válida. Você pode sentir uma ampla gama de emoções por algum tempo, desde tristeza e raiva até medo, culpa, alívio, alegria, confusão ou choque, enquanto algumas pessoas se recuperam rapidamente. Todas essas são reações “normais” à medida que você se adapta à sua nova realidade.
A tristeza e o luto servem a um propósito evolutivo, permitindo que nossos corpos desacelerem e se recuperem da perda, ao mesmo tempo que sinalizam aos outros que precisamos do seu apoio. Algumas pessoas necessitam de rituais, luto e da ajuda de outras pessoas para “superar” a perda, enquanto outras experimentam baixos níveis de angústia. Ondas de raiva, culpa, vergonha, tristeza e medo são respostas normais; também é comum não sentir nada ou ficar desorientado.
Reserve um momento para refletir sobre o que você está sentindo agora em relação à sua perda mais recente. O que você disse a si mesmo que “não era normal” em sua reação? O que você tentou evitar? Talvez seus autojulgamentos e evitações possam ser reavaliados à luz das pesquisas atuais.
Talvez você nunca termine com os sentimentos difíceis relacionados à sua perda. Algumas perdas evocarão tristeza, dificuldades, culpa ou raiva para o resto da vida. No entanto, à medida que você digere lentamente suas experiências emocionais, a perda pode ser integrada e uma nova forma de ver o mundo pode surgir. As emoções são energia em movimento. Se “lutamos contra a corrente” e tentamos suprimir ou barrar as nossas emoções, acrescentamos fadiga e desânimo à nossa dor. Em vez disso, deixe que a energia de cada emoção mova-se através de você, como nadar no fluxo e refluxo das ondas do mar.
Lidando com a perda, parte 2: deixe ir
Você está se apegando a crenças limitantes que o impedem de seguir em frente após a perda? Os exemplos podem incluir pensamentos como “Não sou digno de amor”, “Não vou encontrar outro relacionamento tão bom quanto esse” ou “Não é justo”. Pode ser medo, rancor, ressentimento ou uma sensação de baixo valor que você sabe que poderia desafiar. Pode ser um comportamento que você sabe que o mantém preso ou prejudica, como ficar na cama, isolar-se, fazer compras para se sentir melhor ou sexo compulsivo. Pode até ser algo que você insiste que os outros façam, como dirigir de uma determinada maneira ou tratá-lo de uma maneira específica. Se você reconhece que algo o limita continuamente, talvez seja hora de deixar ir.
Pergunte a si mesmo: o que preciso abandonar? Como posso fazer isso?
- Afaste-se da sua situação e tenha uma perspectiva. Ouça o seu coração. Pelo que você está em luto e o que sua falta o faz buscar? Esse movimento de busca é para amenizar ou anestesiar a dor? Isso tem funcionado ou criado novas dores? É possível honrar o valor daquilo ou de quem se foi, mesmo que o que ou quem você perdeu tenha desaparecido para sempre?
Crie um ritual para se libertar daquilo que você segura com tanta força:
Encontre uma pequena pedra que represente o que você está segurando. Deixe seus sentimentos e valores fluírem através de sua consciência. Sinta o custo e o peso de se agarrar a esta rocha. Quando estiver pronto, abra a mão e solte-a; talvez em um rio ou em um jardim onde faça parte de um novo ecossistema. Esteja aberto também a qualquer sensação de alívio, liberdade, facilidade ou percepção.
Escreva uma carta sobre o que ou quem você perdeu. Dê-se o tempo necessário para isso. Depois leia e diga adeus cerimonialmente fazendo algo com a carta (um funeral? Queime-a? Envie-a para o espaço sideral? Enterre-a e plante uma árvore? Transforme em cerâmica?). Faça algo criativo que tenha significado para você. Os humanos precisam de cerimônia - nossos corpos precisam fazer algo para acompanhar nossas mentes - então escolha algo criativo que ressoe em você.
Lidando com a perda, parte 3: deixe entrar
Algo que lhe trouxe segurança, alegria e significado desapareceu. Então, e agora? Existe todo um planeta de seres – pessoas, animais, plantas – e beleza – estrelas, oceanos, etc. Como você pode repensar maneiras de sentir esses sentimentos e satisfazer essas necessidades? Observe o espaço que sua perda deixou em seu coração. Quando estiver pronto, deixe novas conexões entrarem. Isso não é o mesmo que forçar-se a sentir-se bem, que é uma estratégia para suprimir e controlar o luto. O'Conner descreve como cultivar a capacidade de “ser capaz de pular na poça da dor e sair dela novamente” (Hanson, 2022). A capacidade de tocar a dor e ainda tocar a bondade na vida é um luto saudável.
Navegar a solidão: Faça o que você sabe que pode fazer para se conectar com outras pessoas. Se você estivesse no deserto, sem abastecimento de água, você absorveria tudo o que pudesse – chupando cactos e bebendo água de fontes alternativas. Se você está “no deserto” da conexão, não seja exigente! Internalize os suprimentos sociais prontamente disponíveis. Alguém sorriu para você? Seu vizinho gosta de você? Alguém disse que aprecia você? Você se sente visto? Alguém te ama? Deixe entrar!
Experimente pequenas delícias. Entre ondas de emoções difíceis, encontre-se presente em seu corpo, pulando na poça da tristeza à medida que surgem emoções difíceis e encontrando depois um terreno sólido à medida que seu corpo entra em contato com vislumbres de beleza, prazer, conforto e admiração.
Viva a autocompaixão. Primeiro, deixe de lado os autojulgamentos e permaneça com sua experiência. Em segundo lugar, junte-se à tribo dos enlutados e faça o que puder para aliviar o seu sofrimento e o dos outros.
Lembre-se do que você ama no seu ente querido e honre isso por meio da autoexpressão, cerimônia e ritual. “O luto expresso em voz alta, não coreografado e honesto, por alguém que perdemos, ou por um país ou casa que perdemos, é por si só o maior elogio que poderíamos dar-lhes. O luto é elogio, porque é a maneira natural pela qual o amor honra aquilo que sente falta” (Prechtel, 2015). Talvez você possa expressar seu elogio e pesar:
- Encontrando fotos e montando um memorial
- Indo a um local memorial ou túmulo
- Fazendo uma pulseira ou tatuagem
- Construindo um memorial físico, como uma placa ou estátua em um local público
- Doando dinheiro ou realizando serviços em memória da perda
- Organizando e liderando uma celebração da vida ligada à sua perda
- Escrevendo uma homenagem (ou compilando uma colagem de fotos)
- Fazendo uma playlist de homenagem
- Assistindo a um filme que o ajude a lembrar e ter uma perspectiva
- Continuando sua conexão com o coração: Rumi escreveu: "Seu corpo está longe de mim, mas há uma janela aberta do meu coração para o seu. Desta janela, como a lua, continuo enviando notícias secretamente."
No meio da dor, podemos ficar quietos, deixar de lado o que se foi para sempre, e ter fé na própria espera, e perceber os sussurros de novas conexões, a beleza invisível e os ecos de risada à medida que nossa consciência da vida volta. Ao abraçar o processo de "Deixar ser, Deixar ir, Deixar entrar", podemos navegar pelas ondas do luto com maior facilidade, encontrando consolo no conhecimento de que nossas emoções são válidas, nossas perdas podem ser homenageadas e novas possibilidades podem ser descobertas no horizonte.
Sobre a autora
Jaimie Lusk, Psy.D., é uma psicóloga que orienta veteranos, operadores, líderes, pioneiros e criativos para navegar pelas dificuldades pós-trauma e perdas com clareza e propósito.
Do original "Surfing the Waves of Grief", em Psychology Today:
https://www.psychologytoday.com/us/blog/threshold/202501/surfing-the-waves-of-grief
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