Tristeza

Neste ensaio, busco ampliar meu entendimento sobre a tristeza.

O que me motiva a fazer isso é o esclarecimento emocional. Decidi publicar este texto porque talvez outras pessoas passem por situações similares, e este texto poderia lhes servir como fonte de inspiração.

A vontade de atingir um nível de esclarecimento emocional maior vem da minha percepção atual. Considero que meu entendimento acerca desta região é muito raso e mal compreendido. Geralmente percebo que emoções negativas me influenciam facilmente, e me colocam (e mantêm) em um estado emocional que não me ajuda a viver uma vida muito feliz.

Acredito que um nível mais avançado (ou profundo) de entendimento possa ajudar a se livrar de emoções negativas e a se posicionar melhor diante das diversas situações enfrentadas na vida.

Reparei que há muito tempo carrego no coração um aglomerado de sentimentos doloridos e muito pesados. Em sua grande maioria, são também sentimentos mal-compreendidos ou negligenciados.

Uso o termo tristeza de uma forma geral para me referir a eles, mas talvez este termo não seja o mais adequado. Por exemplo, sentir irritação, raiva, revolta, não são a tristeza em si, mas podem ser reações à tristeza.

O mais importante é que esse peso no coração tem me impedido de viver uma vida melhor, mais leve, saudável e feliz.

Vou assumir a premissa de que carrego esse sentimento, essencialmente, porque quero. Nada me obriga a mantê-lo em meu coração, exceto minhas próprias razões, muitas vezes inconscientes. De fato não vejo prazer algum em carregar no coração esses sentimentos pesados e doloridos. Mas os carrego mesmo assim.

Vou começar investigando o porquê.

No meu caso particular a tristeza existe como uma forma de me posicionar no mundo para que as pessoas aceitem ou concordem em me dar atenção e cuidado. É uma postura passiva, e sugere que não pretendo ser uma ameaça para ninguém.

Essa carência afetiva me acompanha desde a infância. Por ser uma forma de comportamento bastante específica, ela quase sempre me impediu de expressar com mais clareza as minhas necessidades afetivas.

Meu lado afetivo foi muito mal processado durante a vida (se é que foi processado). Depois de ter percebido isso, decidi correr atrás do prejuízo (que é razoavelmente extenso: faz tempo que este texto está sendo escrito, e foi reestruturado diversas vezes).


A Carência Afetiva

Por que uma pessoa desenvolveria carência de afeto vindo do mundo exterior?

Ok, no começo da vida fica difícil distinguir isso com clareza, e se as pessoas que nos criam não compreendem esse mecanismo, nós muito provavelmente também não o compreenderemos.

Mas se ao crescer a criança entende que é capaz de "mimar-se", ela então passa automaticamente a cuidar de suas próprias necessidades (estou assumindo aqui que esta criança é uma pessoa com uma saúde emocional razoável).

Ao perceber que podemos nos agraciar com bons alimentos, passeios, momentos de relaxamento, férias, etc., descobrimos que podemos direcionar afeto para dentro de nós.

Acredite, isso só começou a ficar óbvio para mim depois que comecei a escrever este texto.

A necessidade de receber afeto não nos impede de viver uma vida emocionalmente saudável. Inclusive, detectar que estamos sentindo solidão, tédio, etc., é sinal claro de que temos algum grau de consciência emocional.

Mas a vida sem essa clareza é mais difícil e complexa de ser vivida.

A pessoa sente que tem algo faltando, mas não consegue entender direito o que é, e assim não tem boas condições de buscar aquilo que ela precisa - não tem muito como mimar a si mesma. Com o tempo esse sentimento se torna um peso, uma dor, uma agonia. E isso vai sufocando a pessoa aos poucos, levando à perda da consciência emocional e das necessidades afetivas.

Chega um ponto em que você tenta achar maneiras de amenizar a agonia que sente por causa da carência afetiva não satisfeita. O meu jeito foi buscar essa postura passiva que me levou a ser uma pessoa excessivamente prestativa e honrosa. Por causa desse excesso, eu nunca soube o momento de parar para cuidar um pouco de mim. Sempre me coloquei na última posição da fila de prioridades - isso quando eu reservava um lugar para mim, o que não era algo muito comum.

Fabricar e manter esses padrões comportamentais é algo que demanda muito esforço da pessoa, então ela acaba facilmente se exaurindo.

Descobri com muita satisfação que sai muito mais barato irmos direto ao ponto. É mais barato porque deixamos de lado toda a história que contamos a nós mesmos, deixamos de lado toda a ladainha para manter uma imagem daquilo que não somos de verdade (mas que pretendemos ser diante do mundo), e é mais barato porque assim abrimos a porta que nos permite ir direto ao ponto, sermos pessoas mais objetivas, enxergar e expressar melhor nossos sentimentos, nossas emoções e qualquer tipo de carência afetiva que tenhamos.

Ao longo de nossas vidas, passamos por diversas mudanças de contexto. Estamos sempre nos adaptando a eles, sempre aprendendo algo novo, sempre enfrentando um novo desafio. A complexidade nas relações interpessoais só aumenta com o tempo. E cada experiência que vivemos nos afeta de maneiras distintas, incluindo nossa capacidade de dar e receber afeto.

Nossa necessidade de afeto está sempre presente, mas nem sempre o nosso foco está alinhado com ela. Acredito que quando nos distraímos demasiado e deixamos de olhar para nossas necessidades afetivas por tempo suficiente, começamos a criar desequilíbrio emocional em nós mesmos. Ficamos perdidos, entramos num estado de confusão, e gradualmente deixamos de perceber a causa fundamental dos efeitos dessa carência (medo, solidão, ansiedade, nervosismo).

Por isso é importante colocarmos algum tipo de âncora que possa constantemente nos acordar para o presente e que nos ajude a focar nossa atenção também em nosso estado emocional. Também, é importatnte que saibamos olhar para as nossas necessidades e atendê-las quando vermos a necessidade.


Carregar Peso

Continuando a análise sobre a sensação de carregar um peso dentro nós: a triteza em si, enquanto sentimento não me parecer ser carregável. As pessoas em geral sentem tristeza diante de acontecimentos em suas vidas, perante os quais, pouco ou nada podem fazer. A morte de um ente querido, um projeto que dá errado, uma relação que termina, são apenas alguns exemplos. Pode-se atualizar os documentos de um ente querido que morreu, transferir seus bens para os herdeiros, etc. Um projeto de vida que dá errado pode ser terminado, e outro pode ser começado em seu lugar. Uma relação que termina precisa ter seus laços desligados e o terreno preparado para um novo começo, e assim por diante.

Comparo isso a perceber e reparar um erro qualquer. Digamos que eu tenha derrubado um copo de vidro no chão e ele tenha se quebrado. Sem crise, basta juntar os cacos, embrulha-los e dar-lhes um destino. Chorar, irritar-se, vitimizar-se, culpar algo ou alguém não ajuda a recuperar o copo de maneira alguma. Basta aceitar que o copo quebrou e fazer algo efetivo a respeito.

Penso que lidar com nossas emoções segue o mesmo princípio. Claro que nossas emoções têm uma influência muito maior em nossas vidas, e seu alcance é muito mais profundo. Mas em essência, acredito que lidar com as emoções da mesma forma seja possível e viável.

Tenho uma impressão forte que tenho reprimido a tristeza por longos anos da minha vida, e este aglomerado está lá em algum canto da minha consciência, me furtando uma vida mais plena causada por este acúmulo de sentimentos mal resolvidos do passado.

Mas ainda assim, gostaria de identificar a origem deste sentimento de peso que carregamos. Com certeza não sou a primeira pessoa que fala sobre isso, mas gostaria de compreender o que significa este peso que carregamos.

O Peso é uma força magnética que nos puxa para baixo, que nos enfraquece o corpo e a alma.
Esse peso nos tira as forças ao ponto de não conseguirmos mais lutar.

Mas o corpo e a alma estavam vívidos porque eram motivados por uma crença.
Perdemos as forças ao perdermos de vista o objetivo que anteriormente nos motivava.

A solução é desligar-nos de tudo aquilo a que estávamos ligados anteriormente,
enquanto alimentávamos a nossa crença.

Esta passagem me lembra bastante uma passagem de uma prática de meditação, que reforça a importância de jamais buscarmos alegria em coisas impermanentes. Acho que me serve como uma ótima dica para evitar entrar novamente em situações que abram as portas para o estabelecimento da tristeza em nossas vidas.


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