5 maneiras de reescrever o “terceiro ato” do seu relacionamento
March 17, 2025•1,584 words
Por Mark Travers, Cornell University, em Psychology Today
Traduzido e adaptado por Susane Londero e José Cavalcante
Tempo de Leitura: 8 minutos
#pratodasverem: duas pessoas grisalhas sentadas lado a lado em um banco contemplam uma paisagem de mar e montanhas.
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A teoria do gerenciamento do terror sugere que a consciência da finitude da vida molda as nossas ações e decisões.
O terceiro ato é uma oportunidade de criar uma história de amor que honre o passado e evolua para atender às demandas do presente.
O estabelecimento colaborativo de metas permite que ambos os parceiros se sintam ouvidos, valorizados e investidos no relacionamento.
Os relacionamentos, assim como qualquer grande história, têm reviravoltas que desafiam seus protagonistas a crescer. O “terceiro ato” de um relacionamento - muitas vezes seguindo marcos como um ninho vazio, aposentadoria, ou desafios de saúde - é um desses momentos cruciais. É uma fase que pode ser ao mesmo tempo desorientadora e estimulante à medida que os casais enfrentam questões sobre identidade, propósito e parceria.
Subjacente a essas mudanças está a teoria do gerenciamento do terror, que sugere que a consciência da natureza finita da vida molda ações e decisões. As principais transições da vida podem aumentar a consciência existencial, levando os casais a reexaminar a história do seu relacionamento. De acordo com esta teoria, as pessoas muitas vezes enfrentam momentos de transição buscando significado e estabilidade, com os relacionamentos servindo como uma fonte chave dessa base.
Nota de José e Susane: a Teoria do Gerenciamento do Terror (TMT, na sigla em inglês) é uma teoria psicológica desenvolvida por Sheldon Solomon, Jeff Greenberg e Tom Pyszczynski na década de 1980. Ela se baseia nas ideias do filósofo existencialista Ernest Becker, especialmente em seu livro "A Negação da Morte" (1973). A teoria propõe que o conflito entre o desejo de viver e a consciência da inevitabilidade da morte é uma força central na psique humana, influenciando comportamentos, crenças e atitudes.
Contudo, as transições de vida não precisam sinalizar declínio ou estagnação. Em vez disso, apresentam uma oportunidade para reescrever a história, injetando na parceria nova energia, objetivos e uma visão partilhada de futuro. O terceiro ato, então, é uma oportunidade de criar uma história de amor que não apenas honre o passado, mas também evolua para atender às demandas do presente.
Aqui estão cinco estratégias baseadas em evidências para ajudar os casais a abraçar este capítulo com graça, crescimento e conexão.
1. Co-criando uma nova visão
À medida que a vida muda, os casais muitas vezes descobrem que os seus objetivos anteriores já não se alinham com as suas realidades atuais. Quer se trate de uma mudança de prioridades, de novos interesses ou da necessidade de enfrentar desafios imprevistos, reimaginar um futuro partilhado torna-se um passo vital para navegar nesta fase transformadora. Uma definição colaborativa de metas permite que ambos os parceiros se sintam ouvidos, valorizados e investidos na direção do relacionamento.
Este processo pode incluir revisitar sonhos, explorar novos hobbies juntos ou até mesmo projetar uma trajetória totalmente nova para o futuro. Por exemplo, os casais podem considerar a possibilidade de realizar atividades como viajar, fazer voluntariado ou realizar projetos criativos conjuntos para reacender o propósito comum.
Os especialistas em relacionamento John e Julie Gottman enfatizam em um estudo de 2017 que sonhos e visões compartilhados servem como base para a satisfação no relacionamento a longo prazo. Quando os casais criam um roteiro mútuo, eles nutrem a conexão e garantem que ambos sintam que suas aspirações individuais são honradas.
Se você não sabe por onde começar, aqui está uma lista abrangente do Gottman Institute que pode ajudá-los a honrar e apoiar os sonhos um dos outro em conversas.
Reconheça a história do sonho. Descubra suas raízes perguntando: “Qual é a história por trás disso?”
Mostre empatia pelos sonhos do outro. Reconheça sua importância dizendo “Eu entendo por que isso é importante para você”.
Ofereça apoio emocional. Mesmo que não possa ajudar diretamente, afirme: “Você sempre terá meu apoio”.
Envolva-se. Aprenda sobre o sonho, ajude a planejar e ofereça conselhos ou ajuda prática, incluindo cuidar dos filhos, transporte ou outra assistência, se necessário.
Experimente. Junte-se ao sonho temporariamente. Se também estiver alinhado com você, considere torná-lo como parte de um sonhar compartilhado.
2. Cultivando flexibilidade no relacionamento
À medida que a vida muda, também mudam os papeis que desempenhamos em nossos relacionamentos. O que antes funcionava - como um parceiro gerenciando as finanças ou se dedicando completamente aos cuidados familiares - pode não se adequar a novas realidades, como a aposentadoria ou os desafios de saúde. Em vez de se aterem a rotinas ultrapassadas, os casais podem aproximar-se reavaliando e remodelando estes papeis juntos.
Tenham conversas honestas e sinceras sobre o que cada um de vocês precisa, deseja e é capaz de fazer agora. Talvez o parceiro que está sempre cuidando da casa queira explorar um novo hobby ou carreira, enquanto o outro caminha para lidar com mais responsabilidades domésticas. Estar aberto a essas mudanças pode ajudar ambos os parceiros a se sentirem apoiados, valorizados e energizados.
Flexibilidade nas funções também significa adaptação quando surgem desafios imprevistos. Um parceiro pode precisar assumir temporariamente novas responsabilidades devido a problemas de saúde, cuidados ou outras demandas. Essa flexibilidade de funções promove uma distribuição mais equitativa de responsabilidades e um sentido mais profundo de vida conjunta. Incentiva ambos os parceiros a verem a relação como uma parceria dinâmica e em evolução, em vez de um acordo estático, conduzindo a uma maior satisfação a longo prazo.
3. Reconstruindo a intimidade emocional e física
A tensão em períodos de transição muitas vezes recai sobre a intimidade, com a proximidade emocional e física diminuindo devido ao estresse, mudança de prioridades ou desafios de saúde. Está bem documentado que priorizar a intimidade pode servir como fator de proteção contra a insatisfação no relacionamento.
Um estudo de 2016 publicado no Journal of Adult Development examinou fatores que afetam a satisfação com a vida em casais com ninho vazio, concentrando-se especificamente no ajustamento conjugal e nas conexões familiares. Descobriu que a felicidade de ambos os parceiros estava intimamente ligada à sua qualidade conjugal, com o ajustamento conjugal impactando fortemente na qualidade de vida um do outro - destacando uma forte influência do parceiro.
A conexão intencional - por meio de encontros noturnos regulares, afeto físico ou hobbies compartilhados - pode ajudar a reacender a proximidade. Pesquisas indicam que os casais que se envolvem ativamente em interações significativas relatam níveis mais elevados de satisfação e confiança, reforçando a importância de manter a intimidade emocional e física à medida que o relacionamento evolui.
4. Construindo juntos uma rede de apoio
À medida que o sentido da história partilhada e das rotinas familiares que outrora definiam a parceria começa a mudar, o terceiro ato de uma relação pode por vezes parecer desolador, com ambos os parceiros navegando em território desconhecido. Nestes momentos, buscar apoio externo pode tornar a transição mais gerenciável, oferecendo um senso de comunidade e conexão fora do relacionamento.
Seja fazendo terapia, participando de um retiro para casais ou conectando-se com amigos apoiadores, o contato pode proporcionar aos casais uma perspectiva mais ampla. Estas experiências normalizam a transição e oferecem novas perspectivas sobre como abordar novos desafios.
Cercar-se de pessoas que passam por experiências semelhantes também pode criar um sentimento de camaradagem e encorajamento e reduzir sentimentos de isolamento.
Além disso, estas interações criam um espaço para vulnerabilidade, permitindo que os parceiros expressem as suas preocupações e tenham interações valiosas. Estas redes de apoio podem oferecer um novo conjunto de estratégias de sobrevivência, ferramentas para resolução de conflitos e reforço positivo que fortalecem o relacionamento, melhorando a ligação e a satisfação globais.
5. Desenvolvendo um “projeto legado” juntos
O terceiro ato de um relacionamento muitas vezes inspira o desejo de deixar uma marca significativa - algo que reflita valores compartilhados, memórias queridas e aspirações para o futuro.
Os casais podem aproveitar este desejo trabalhando juntos num “projeto legado”, um empreendimento que serve tanto como uma celebração da sua parceria como como uma contribuição significativa para a sua família ou comunidade. Quer se trate de iniciar um pequeno negócio, ser voluntário em uma causa ou criar um arquivo familiar de marcos e memórias, esses projetos oferecem um senso de propósito e conexão.
Pesquisa publicada em Clinical Gerontologist salienta que quando pacientes com doenças crônicas trabalham com seus cuidadores familiares em projetos como álbuns de recortes ou histórias gravadas em áudio, eles experimentam melhor comunicação e conexões mais próximas. Essas atividades incentivam a reflexão positiva, conversas significativas e momentos compartilhados de alegria.
Para os casais, trabalhar em um projeto legado oferece benefícios semelhantes, incentivando a colaboração, aprofundando a compreensão mútua e criando um tributo duradouro à sua jornada compartilhada. Além do resultado tangível, o próprio processo se torna uma celebração significativa da vida e do amor que construíram juntos.
Em essência, o terceiro ato de um relacionamento é uma fase transformadora marcada por desafios e oportunidades significativas. Ao ser abordado com abertura e intenção, o terceiro ato pode se tornar um testemunho poderoso da resiliência e adaptabilidade do amor duradouro.
Sobre o autor: Mark Travers, Ph.D., é um psicólogo americano com graus na Cornell University e na University of Colorado Boulder.
Do original: 5 Ways to Rescript the "Third Act" of Your Relationship. Em:
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