Quando a vida parece fora de controle
March 31, 2025•1,235 words
Por Eric Solomon, PhD, em Psychology Today
Traduzido e adaptado por Susane Londero e José Cavalcante
Tempo de Leitura: 6 minutos
#pratodasverem: águas rasas e límpidas de um riacho correm entre pedras e vegetação, formando uma tênue espuma esbranquiçada.
No texto você lerá sobre:
Seu cérebro não está quebrado - a vida moderna é esmagadora por natureza.
Mais informações não vão te salvar. Buscar freneticamente por mais informações faz você se sentir pior.
Tentar controlar tudo é exaustivo. A verdadeira habilidade é ser capaz de lidar com a vulnerabilidade e incerteza.
O vinho era servido. Uma tigela de castanhas estava reduzida a migalhas. Derrubou-se um copo no meio do caminho - um sinal de que a conversa havia mudado para um ritmo mais acelerado.
Começou, como essas noites fazem, com uma conversa fiada educada. Mas em poucos minutos, estávamos nos desviando para coisas profundas: demissões em massa. Desastres climáticos. Tecnologia ultrapassando a compreensão humana. O jantar tinha se tornado um exorcismo coletivo, alimentado por vinho tinto e uma pitada de pavor existencial.
Pensei que fosse só eu. Aquela sensação assustadora de que a própria vida estava escorregando por entre meus dedos. Mas quanto mais conversávamos, mais claro ficava. Somos todos nós.
Você já passou por aquele momento em que verifica seu telefone logo de manhã e, de alguma forma, antes mesmo de tomar um gole de café, você se depara com três manchetes que fazem fantasiar sobre se mudar para uma cabana remota e jogar seu telefone no mar?
Todo mundo já passou por isso. A verdade em torno da qual rodamos - em nossos chats de grupo, nos silêncios entre as notificações - é esta: perdemos o controle.
Não apenas sobre as coisas grandes e óbvias - a economia, a política, a tecnologia evoluindo à nossa frente - mas sobre as coisas cotidianas também. Nosso foco. Nosso senso de tempo. Aquele pânico de baixo nível de que não importa quantos calendários, aplicativos e "truques de vida" nos apeguemos, a vida continua vazando pelas rachaduras.
Não estamos imaginando. E não estamos quebrados. Estamos vivendo uma perda coletiva de controle - e nossos cérebros estão falhando sob a pressão.
O Mito do Controle
A maioria de nós recebeu um roteiro sobre como a vida funciona: trabalhe duro. Faça escolhas responsáveis. Mantenha-se informado. Planeje com antecedência. Se você fizer tudo isso, será recompensado com alguma forma de estabilidade.
O controle deveria ser o prêmio por seguir as regras. O problema é que essa promessa sempre foi construída em terreno instável. Os sistemas em que confiamos nunca foram totalmente sólidos. A diferença agora é que as rachaduras são grandes demais para serem ignoradas.
Carreiras de longa duração em uma mesma empresa? Acabou. Substituída por "dimensionamento correto" e "reestruturação" desenfreados. Previsibilidade econômica? Desapareceu. Bem-vindo à montanha-russa financeira. Um clima que você pode prever? Boa sorte com isso.
Até mesmo nossa atenção - a ferramenta que usamos para processar tudo - é constantemente sequestrada por aplicativos projetados para roubá-la. O mundo sempre foi imprevisível. A novidade é o quanto estamos cientes de quão pouco controle realmente temos.
Nossos cérebros não conseguem lidar
Os cérebros humanos anseiam por padrões da mesma forma que os pulmões precisam de ar. Nós amamos a certeza porque ela parece segura, confortável. Quando a perdemos - quando o mundo para de corresponder às nossas expectativas - nossos cérebros tratam isso como uma emergência real.
É por isso que muitos de nós oscilam entre as mesmas três estratégias de forma um tanto automática:
Planejamento excessivo. Se o mundo não se comporta como você gostaria, talvez seja possível controlar ao menos um pedaço dele. Cronogramas codificados por cores, rotinas matinais otimizadas, planos de backup para seus planos de backup. Exceto que nenhuma quantidade de planejamento pode superar a incerteza.
Rolagem de pânico. Mais informações devem significar mais controle, certo? Em vez disso, elas apenas alimentam o ciclo de ansiedade. Quanto mais você consome, menos sabe o que fazer.
Congelamento. Quando tudo parece demais, desligar parece mais seguro do que tentar acompanhar. É mais fácil ficar entorpecido do que enfrentar o caos de frente.
Todas as três estratégias compartilham a mesma falha: elas confundem informação com poder. Saber mais não é igual a controlar mais. Insistir no que não funciona apenas deixa você exausto.
A vida não é um sistema para otimizar. É mais como um oceano que você aprende a navegar.
Quando o controle é perdido
Ninguém naquela mesa de jantar precisava de uma conversa estimulante. O que precisávamos - e no que chegamos - era algo muito mais simples: uma nova maneira de viver quando a incerteza não é a exceção indesejada, mas todo o sistema operacional.
Aqui está um pouco do guia de sobrevivência que precisávamos:
Reduza o quadro: quando o panorama geral for demais, amplie o zoom. Você não pode consertar a economia hoje. Você pode fazer o almoço. Você pode sair e lembrar que tem um corpo, não apenas um cérebro preso em uma espiral de desgraça. O verdadeiro poder vive nos próximos cinco minutos. Nas pequenas escolhas humanas que lembram que ainda estamos aqui.
Espere reviravoltas na trama: a maioria de nós ainda acredita silenciosamente que, se planejarmos bem o suficiente, a vida seguirá o plano. Não vai. Planos são ficção e a realidade adora uma reviravolta na trama. As pessoas que prosperam não são aquelas com as melhores estratégias. São aquelas que conseguem mudar sem se perder. Pense na vida como uma improvisação, não como um roteiro. O objetivo não é controlar o enredo. É permanecer firme quando o enredo inevitavelmente muda.
Fortaleça a rede: o mundo é instável. Seu sistema de apoio não precisa ser. Estudo após estudo confirma: quando a vida fica confusa, o preditor mais forte de resiliência não é riqueza, talento ou mesmo otimismo. É a conexão - a rede de amigos, familiares, mentores e colegas que lembram você de quem você é quando todo o resto parece instável. Você não pode controlar o mundo. Mas você pode escolher com quem você passa por isso. E essa pode ser a escolha mais poderosa que você tem.
O ponto é agência
Quando tudo parece caótico, há uma tentação de desistir. Mas um caminho melhor é desistir da fantasia de que você pode dobrar o mundo à sua vontade se você apenas se esforçar o suficiente.
O controle é reconfortante. Mas também é frágil e quebra sob pressão. A agência - a escolha de decidir como você se movimenta dentro da incerteza - é mais difícil. Ela se flexiona. Ela fica com você, não importa o quão estranho o mundo fique.
Algumas das melhores coisas que acontecerão com você chegarão sem programação, sem planejamento e completamente fora do controle. Algumas das coisas mais difíceis também chegarão.
Mas, apesar de tudo isso, você ainda está aqui. Ainda respirando. Ainda decidindo como responder. E isso não é pouca coisa.
Essa agência é o que torna você uma pessoa tão poderosa.
Eric Solomon, Ph.D., migrou para o campo dos negócios depois de seu Ph.D. em psicologia. Ele desempenha papéis de liderança no YouTube, Spotify, Instagram e Bonobos e é CEO do The Human OS.
Do original: Why Life Feels Out of Control—And How to Take It Back.
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