Traumas infantis estão fortemente ligados a problemas de saúde mental em adolescentes brasileiros
April 25, 2025•984 words
Pela Universidade de Bath, Reino Unido, em Medical Xpress
Traduzido e adaptado por Susane Londero e José Cavalcante
Tempo de Leitura: 5 minutos
#pratodasverem: Uma criança está deitada abraçada aos joelhos, iluminada apenas por um feixe de luz. A imagem é em preto e branco e passa impressão de desolação.
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Trauma infantil aumenta risco de transtornos mentais na adolescência, com 81% dos jovens expostos a traumas e 31% dos casos ligados a esses eventos.
Impacto global exige intervenção precoce, como programas de prevenção e apoio, destacando iniciativas como o Pacto Pelotas pela Paz.
Traumas têm efeitos duradouros, exigindo políticas públicas para proteger crianças e reduzir consequências na saúde mental ao longo da vida.
Um novo estudo realizado por uma equipe de pesquisadores do Reino Unido e do Brasil revelou uma forte ligação entre traumas infantis e o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos em adolescentes que vivem em países de baixa e média renda.
Os resultados da pesquisa baseiam-se na pesquisa Coorte de nascimentos de Pelotas, Brasil, de 2004, que acompanhou mais de 4.000 crianças nascidas em Pelotas, cidade no sul do estado do Rio Grande do Sul, desde o nascimento até os 18 anos. The Lancet Saúde Global, o estudo analisou como a exposição ao trauma desde a infância afeta o risco de transtornos de saúde mental durante a adolescência.
Os resultados mostraram que, aos 18 anos, 81% dos adolescentes já haviam sido expostos a algum tipo de trauma, como presenciar um acidente, crime violento, abuso ou negligência. Quanto mais diferentes tipos de traumas vivenciados, maiores são as chances de os adolescentes desenvolverem problemas de saúde mental, principalmente transtornos de ansiedade, humor e conduta. Aos 18 anos, um terço de todos os transtornos mentais foram potencialmente explicados pela exposição ao trauma.
Nota de José e Susane: na psicologia, trauma na infância e adolescência refere-se a experiências avassaladoras (como abuso, negligência, violência ou perdas graves) que superam a capacidade de coping da criança ou adolescente, podendo gerar impactos emocionais, cognitivos e comportamentais duradouros. O trauma pode ser agudo (evento único) ou complexo (exposição prolongada), e está associado a condições como o estresse pós-traumático, dificuldades de apego e prejuízos no desenvolvimento. Abordagens terapêuticas como a terapia cognitivo-comportamental focada em trauma, EMDR (dessensibilização e reprocessamento através do movimento dos olhos) e intervenções sistêmicas são comumente utilizadas para seu tratamento.
Este estudo baseia-se nas descobertas anteriores dos investigadores da mesma coorte, que mostraram que uma em cada três crianças que vivem em Pelotas foi exposta a traumas aos 11 anos, e que o trauma estava ligado ao surgimento de problemas comuns de saúde mental na infância.
A pesquisadora principal Megan Bailey, do Departamento de Psicologia da Universidade de Bath, disse: "Nossas descobertas mostram que o trauma infantil tem um impacto duradouro na saúde mental, particularmente em países de baixa e média renda, onde o trauma é muito comum. Em combinação com estudos anteriores que também mostraram esses efeitos em jovens e adultos em países de alta renda, está claro que a exposição ao trauma infantil é um fator de risco chave para o desenvolvimento de problemas de saúde mental em todos os níveis.
"A nossa descoberta de que o trauma é responsável por pelo menos 31% de todos os problemas de saúde mental aos 18 anos sublinha ainda mais esta relação. As intervenções precoces são fundamentais para reduzir a exposição ao trauma e ajudar aqueles que correm maior risco de desenvolver distúrbios de saúde mental."
Em Pelotas, um programa de intervenção liderado pela cidade, o Pacto de Pelotas pela Paz, foi lançado em 2017 para reduzir a criminalidade e a violência urbana através de projetos de saúde, educação e sistema de justiça criminal. As primeiras avaliações desta intervenção mostraram taxas mais baixas de crimes violentos após a implementação da intervenção, embora seja necessária mais investigação para estabelecer se também reduz a prevalência de problemas de saúde mental nos jovens.
Graeme Fairchild, do Departamento de Psicologia da Universidade de Bath, comentou: "Este estudo demonstra que o trauma infantil tem consequências de longo prazo na saúde mental - e o risco de problemas de saúde mental foi visto em todos os níveis, com jovens expostos ao trauma com maior risco de depressão, ansiedade, TDAH e comportamento antissocial grave. O estudo destaca a necessidade urgente de estratégias de prevenção para reduzir a exposição ao trauma em países de baixa e média renda e fornecer apoio mais eficaz para crianças e adolescentes traumatizados."
A coautora, Professora Sarah Halligan, do Departamento de Psicologia da Universidade de Bath, acrescentou: "O trauma infantil é um preditor robusto de problemas de saúde mental dos adolescentes, e nosso trabalho demonstra que os jovens em condições de baixa e baixa renda países de renda média como o Brasil pode estar particularmente em risco. Além dos esforços para prevenir a exposição ao trauma, precisamos de tomar medidas, como as que estão a ser tomadas como parte do programa do Pacto pela Paz de Pelotas, para limitar as suas consequências para a saúde mental entre os jovens. Se não for resolvido, o trauma infantil pode ter consequências negativas persistentes ao longo da vida”.
Segundo a coautora Professora Alicia Matijasevich, da Universidade de São Paulo, Brasil, "Pesquisas sobre o impacto do trauma de infância e os maus-tratos são extremamente importantes devido às suas profundas implicações para a saúde mental e o desenvolvimento emocional. Estes estudos não só melhoram a nossa compreensão dos efeitos de longo alcance do trauma, mas também fornecem evidências essenciais para orientar estratégias preventivas e intervenções que podem mitigar as consequências a longo prazo de tais experiências adversas”.
Mais informações: Associações entre traumas infantis e transtornos psiquiátricos em adolescentes na Coorte de Nascimentos de Pelotas 2004, The Lancet Saúde Global (2025). DOI: 10.1016/S2214-109X(24)00452-2
Informações do diário: The Lancet Saúde Global
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