Espelho

Quando me observo ao espelho, tenho a sensação de que espreito a intimidade de um estranho (ou pelo menos vejo sempre alguém diferente). Sei que sou feito deste corpo e que este se faz pelo tear do tempo. Sei que sou feito da mesma água que deixo a correr no lavatório, sou a coragem e o medo, sou um oceano de coisas que me consomem. Sou um conjunto de impulsos e sou uma montanha de aborrecimento. Descubro-me no tédio. Aponto em diferentes pontos no espelho para encontrar referências sobre mim mesmo para amanhã ainda me lembrar daquele que no dia anterior me cansei de ser. Toda a minha presença é vazio e toda ela ocupa e se vê no espelho que observo. Amanhã quando aqui voltar, serei outra pessoa.


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